Sérgio Dias, 33 anos, é um aventureiro. “É próprio da idade”, diz este brasileiro, natural do Espírito Santo, um pequeno estado do sudeste do Brasil, que já tem uma filha de um ano e nove meses e que, por estes dias, vai aumentar a família — a mulher, Carina, está nos últimos dias de gravidez.
O empresário brasileiro sorri e fala calmamente, mas por dentro, confessa, está “uma pilha de nervos” e já sabe que vai ter três mulheres a mandar nele. “Vai ser duro, hein?” e pisca o olho. Mas a mulher mais velha das três, por quem Sérgio se apaixonou há 17 anos ainda no Brasil, é tão aventureira quanto ele.
Sérgio e Carina vieram há sete anos para Portugal, “à aventura”. “Foi meio uma loucura, porque não conhecíamos ninguém e apenas acreditando que Deus iria ajudar”. E ajudou?, perguntamos. “Graças a Deus”, diz, com um sorriso. O início, porém, não foi fácil. “Tivemos dificuldade para conseguir trabalho e o melhor que consegui foi serviço numa empresa de montagem de eventos na Venda do Pinheiro”. Problema: “Na altura nós morávamos em Corroios, na Margem Sul”.
Sem carro, Sérgio fazia todos os dias em transportes públicos “duas horas para ir, duas horas para voltar”. “Era muito difícil”, afiança. A mulher demorou mais algum tempo para conseguir trabalho, mas acabou por conquistar “uma vaga como esteticista”. “Foi um período bem duro para nós”, admite à New in Amadora.
Nada que os demovesse a ficar. “Gosto muito de Portugal. Hoje é a minha casa. É assim que me sinto cá, não tenho dúvidas”, conta, recordando que veio “por causa da qualidade de vida, segurança, e a busca de um futuro melhor”, conta, enquanto serve um cliente que acaba de entrar no estabelecimento comercial que tem em frente ao mercado da Damaia.
“Bom dia, o que vai ser, meu amigo?”, pergunta com simpatia. O cliente olha para a montra onde estão empadas, coxinhas de galinha, enroladinhos de queijo e fiambre e kibis, e depois para uma boleira onde há um bolo de chocolate com cobertura, ainda por abrir, e um prato ao lado cheio de brigadeiros a gritarem “come-me”. Hesita, mas acaba por decidir-se pelo salgado. “Quero um café e uma coxinha”. “Excelente escolha”, responde, confiante, Sérgio.
Sem experiência na restauração
O Brazuca Coxinha era um sonho antigo do casal. “Este espaço é aquilo que nós no Brasil chamamos de lanchonete e decidimos abri-lo há quase dois anos”. Não foi um risco calculado, diz o empresário. “Não, não foi”, sorri como resposta. E explica. “Foi uma aventura, nós os dois funcionamos muito assim, por intuição. Se queremos tentar até conseguir, fazendo as coisas acontecerem”.
O boteco da Damaia é a sua primeira experiência com restauração. “Nem aqui nem no Brasil, nunca tinha trabalhado na área, mas eu e a minha esposa tínhamos este sonho de poder trazer coisinhas do Brasil para Portugal. Pesquisámos na Internet e vimos que havia muita procura de salgadinhos brasileiros, açaí, brigadeiros, e decidimos tentar”.
Os primeiros sete meses do negócio — abriu a 20 de julho do ano passado — ainda não correram como o casal gostaria. “Está a ir aos poucos, ainda não com a velocidade que nós queríamos. Mas sabíamos que este tipo de negócio demora algum tempo a implantar-se, até porque há muitos custos associados e a margem é muito curta”, afirma.
Sérgio constata ainda a dificuldade da concorrência desigual na restauração e retalho. “O que estamos a verificar em Portugal é que os micro-empresários estão a ser esmagados pelos grandes retalhistas. Repare, hoje você pode tomar o pequeno-almoço, almoçar, lanchar e até jantar no Pingo Doce e no Continente a preços muito mais reduzidos, porque eles têm uma estrutura muito mais ampla, mais escala e conseguem preços muito mais reduzidos”, afirma à NiA.
“Ela conquistou-me pela barriga lá no Brasil”
É Carina quem faz os salgados que o casal vende na loja. “Ela já fazia alguns salgadinhos em casa e tinha muito jeito”, diz, com uma gargalhada. “Já eu, a minha praia é mais comer”, confessa entre risos. A empada de frango com queijo é a sua perdição e Sérgio não tem dúvidas que Carina o conquistou pela barriga. “Quando o assunto é comida, é difícil resistir. Lá no Brasil, eu estava todos os domingos em casa dela e, portanto, ia comendo o que ela fazia”.

O estabelecimento é pequeno, não dá para mais de dez pessoas sentadas, embora tenha um balcão e uma pequena esplanada que, nestes dias de chuva, não tem sido grande ajuda. Com a gravidez da mulher — e o nascimento da filha marcado já para o início da próxima semana —, Sérgio teve de contratar uma colaboradora. “Já tive aqui mais, mas o movimento não justificava. Vamos esperar que, aos poucos, as pessoas nos descubram e que o bom tempo nos traga mais clientes. Porque qualidade não nos falta”.
Para alavancar as vendas, o empresário lançou um pack, que era para ser promoção limitada mas que, dada a aceitação, vai ficar permanente: um combo de 10 mini salgadinhos mais um refrigerante por 4,5€.
O Brazuca Coxinha aposta também no take-away, aceitando encomendas para festas de aniversário. Até ao fim de março tem uma promoção de 100 salgados já fritos — “coxinha, rolinho de fiambre e queijo, bolinha de queijo, kibi e enroladinho de salsicha” por 30€
Se optar por comer na loja, cada salgado de tamanho normal custa 2€, o pão de queijo é a 1,20€ e tem, claro, pastéis de vento — uma especialidade brasileira retangular, com uma massa fininha idêntica às dos nossos pastéis de massa tenra — podendo escolher com recheio de carne, carne com queijo, só queijo ou frango e queijo (4,70€).
Há ainda brigadeiros (1€) e bolos à fatia (a partir de 2€). Casa brasileira sem açaí não é casa brasileira. E o Brazuca Coxinha também tem, a partir de 5,90€, dependendo do tamanho do copo.
“Por enquanto não tenho serviço de entregas, mas lá para o meio de março já vamos estar presentes nos aplicativos de delivery Uber Eats e Glovo, o que vai facilitar muito a vida aos nossos clientes e levar mais gente a conhecer o nosso espaço”, conclui Sérgio.
Carregue na galeria e veja algumas das especialidades do Brazuca Coxinha.