“A minha história é normalíssima, tem muito pouco glamour”, avisa Luís Jesus, 46 anos, quando chegamos a si. “Podia dizer que o meu prato favorito é fois gras, mas não, é bitoque. Como em bitoque em todo o lado”, revela, entre risos, à New in Amadora. E até pode comê-lo no seu próprio restaurante, a Tasca do Chê, aberto desde 5 setembro do ano passado na Venteira, Amadora, e que tem recebido elogios do público e da crítica.
Na Amadora ninguém o conhece por Jesus, mas sim por Chê. A pergunta que se impõe não é original. Ainda assim, é obrigatória: “influências do revolucionário Che Guevara?” Que não. “Também aqui não tem nada de glamouroso. Não ando de boina, nem partilho dos seus ideais”, esclarece.
Os motivos são, contudo, simplesmente surpreendentes. “Em miúdo eu tinha muitas dificuldades em dizer os L, e então na escola, os meus colegas começaram a chamar-me Tartaruga Touché, que era um desenho animado muito popular que também não dizia os L. E olhe, foi ficando. Touché para aqui, Touché para ali, ficou alcunha e depois, o Tou foi caindo e ficou só o Che. Hoje toda a gente conhece-me por Chê”.
Luís nasceu na Damaia e por ali viveu até aos 28 anos. Nunca precisou de pedir emprestada a espada à tartaruga. “A Damaia era um bairro muito diferente, toda a gente se conhecia. Há um grande preconceito em relação à Damaia. Hoje, claro, há uma multiculturalidade mais alargada, mas nunca tive problemas. Hoje já não mora lá, mas continua a viver na Amadora. “Sou um amadorense dos sete costados”, reconhece à NiA.
“A universidade não me excitava”
O chef Luís Jesus sempre gostou de cozinhar, mas também aqui a história não é a normal. “Não, não me inspirei na cozinha da minha mãe ou das minhas avós. A minha mãe cozinhava bem, mas não foi uma inspiração para mim nesse campo. Com as minhas avós não tive grande relação — aliás, uma delas até viva em França”, recorda.
A paixão pela cozinha foi construindo por si. “Lendo umas coisas, vendo os outros fazendo, descobrindo com amigos”, exemplifica. Quando acabou o ensino secundário na Azevedo Neves, ainda pensou na universidade. “Mas comecei a olhar para as possibilidades e nada me excitava. Não me via a fazer nada daquilo”, confessa. Acabou por tirar um curso profissional de cozinha no Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar (CFPSA), na Pontinha, um centro de referência na área — que, por exemplo, há muito colabora com o Masterchef Portugal.
Com a formação feita, passou por “restaurantes de todo o tipo de cozinha, mas mais ligados à cozinha mediterrânica”, em especial o reputado Nortada, na Praia Grande, em Sintra. “Foi uma grande escola para mim, aprendi muito”, reconhece.

Foi em 2015 que decidiu abrir o seu próprio negócio. Juntou amigos e abriram o Hã Burgueria com Todos, em Carnaxide. “O projeto correu muito bem. E acabámos por expandir para o Campo Grande, Expo e Amadora”, relata. Até que, há um ano me meio, achou que era altura de seguir viagem sozinho. “Vendi a minha parte na sociedade, fiquei com a loja da Amadora, onde a 5 de setembro de 2024, abri a Tasca do Chê”.
O empresário não podia estar mais satisfeito. “Tem corrido bastante bem, apesar de sermos ainda recentes com este tipo de menu. O feedback dos clientes tem sido bastante positivo e não podia estar mais agradecido pela ajuda que nos têm dado. Mesmo quando as coisas não correm tão bem, há sempre uma grande atenção”, sublinha.
Com capacidade para 64 lugar, a Tasca aposta numa ementa “relativamente pequena” — “é a melhor forma de controlar a qualidade e garantir que há o menor número de falhas possível” — justifica, com uma prioridade à comida portuguesa, embora com um toque internacional e a carne da América do Sul.
O bitoque à casa (11,50€), que faz as delícias de Chê, tem muita saída, mas os pratos-estrela do restaurante, que estão entre os mais pedidos dos clientes, são os ovos rotos com enchidos regionais e queijo da serra (7,50€), caril de camarão com arroz de alho e coentros (11€), linguini de camarão com tomate cherry e manjericão (12,50€), o entrecôte Black Angus grelhado (15€) e a picanha fatiada (14€). Há ainda bacalhau lascado com broa (14,50€) e polvo na grelha com batata nova salteada e grelos (15,50€).
“Temos também uma travessa de carne Angus para duas pessoas que tem saído muito bem e, entre as bebidas, há uma sangria de gengibre que as pessoas adoram”, completa.
Apesar de adorar cozinhar, Luís está cada vez menos na cozinha do seu restaurante. “É muito importante estar na sala, conversar com as pessoas, ouvir os seus comentários, anotar os seus feedbacks. Um bom restaurante faz-se com boa comida, claro, mas faz-se também com sorrisos e com clientes bem-dispostos”, conclui.
Carregue na galeria, conheça a Tasca do Chê e veja alguns dos pratos que por lá pode comer.