“Entre, sinta-se em casa”. Eis uma frase que é comum ouvirmos sempre que chegamos a um espaço comercial. No + Olhos Que Barriga, o pequeno restaurante que passa despercebido na rua atrás da Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, na Amadora, a frase não se ouve. Nem é preciso. Porque basta entrar e a sensação é logo essa — parece que estamos em casa. E aqui pode-se cozinhar.
Vamos por partes: o + Olhos que Barriga (assim mesmo, com um +) não é um restaurante. Quer dizer, tem cozinha, tem mesas e pode comer-se lá. “É mais uma casa de amigos”, prefere chamar Teresa Bruno, 57 anos, a antiga educadora de infância, que trocou os miúdos por uma paixão de infância. Mas já lá vamos.
O espaço cheira mesmo a casa. Tem uma cozinha, mas é na sala que tudo se passa: um sofá vermelho corrido, uma mesa comprida e mais três mesas redondas com as respetivas cadeiras permitem reunir 15 pessoas confortavelmente. E ao meio da sala, uma ilha com placa de indução, um robô de cozinha branco daqueles que muitos de nós temos em casa (sim, esse que começa por B e acaba em Y).
“É nesta ilha que eu assumo as minhas funções”, conta Teresa à New in Amadora. Não só a cozinhar como também a ensinar. E é por aqui que vamos. No próximo dia 8 de março, Dia da Mulher, entre as 10h30 e as 13h30, a + Olhos que Barriga promove um workshop de cozinha vegan e vegetariana.
“Como tenho sempre um prato vegan na ementa diária, tinha clientes vegans ou vegetarianos que vêm cá comer e que me diziam constantemente que queriam aprender e que eu devia ensinar tudo o que sabia”, recorda a empresária, com uma gargalhada.
Tudo o que ela sabe aprendeu, afinal, nos livros que leu. “Apenas entrei neste mundo por causa do meu filho, que começou a seguir uma dieta vegana quando tinha 14 anos. Eu e o pai começámos a seguir também, para não estarmos a fazer comidas diferentes lá em casa. Foi assim que comecei a aprender. Não sabia nada. Comprei livros, li e aprendi”, diz à NiA, como se fosse fácil. Já agora, nenhum dos três manteve a dieta rigorosa. “Mas o meu filho continua a comer maioritariamente comida vegana ou vegetariana”, sublinha.
E, pelos vistos, é. “Neste workshop, que será feito aqui na nossa casa”, diz, enquanto aponta para a bancada e placa de indução onde conversamos, “iremos cozinhar uma refeição completa, composta por entrada, prato principal e sobremesa”. Todos os ingredientes utilizados “são acessíveis e fáceis de encontrar, tornando estas receitas práticas para o dia a dia”, acrescenta, deixando claro, contudo, que cada participante não tem de levar nada. Apenas vontade de aprender e colocar as mãos na passa.
No final, o que cada um cozinhou pode ser comido pelo próprio, uma vez que o workshop tem almoço incluído. O valor é de 45€ por pessoa e as inscrições podem ser feitas através de mensagem ou telefonema para o 926 122 743.
A culpa de cozinhar foi da avó
Naquela casa, Teresa é a faz-tudo. “Quem cozinha aqui sou eu. Tenho uma ajudante, mas quem cozinha sou eu. Cozinhamos todo o tipo de comida, até porque sou muito curiosa e estou sempre a querer aprender. Se bem que aqui não tenha grande espaço para dar largas à imaginação”, concede.
O + Olhos que Barriga funciona entre as 9 e as 17 horas. “Só sirvo almoços e, de vez em quando um pequeno-almoço e um lanche, mas o mais forte são os almoços. Temos uma sempre uma ementa com três pratos do dia: um de carne, um de peixe e um vegetariano (mini-prato custa 6,5€, prato, 8€, sopa, 2€ e sobremesa, 2,5€).
Só para aguçar o apetite, para esta quarta-feira, 26 de fevereiro, estão previstos sopa de lombardo, ervilhas com ovos escalfados, brás de atum, pastéis de espinafres e tofu com arroz de legumes e leite creme. Mais “comida de mamã” era impossível.
E, afinal, de onde veio essa paixão pela comida? A culpa é da avó. “Comecei a cozinhar muito cedo. O fascínio pela cozinha começou logo desde os quatro ou cinco anos. Foi com essa idade que eu comecei a fazer pão de ló com a minha avó”, recorda, de forma nostálgica. “Fiz o meu primeiro pão de ló sozinha com cinco anos. Claro que tive a supervisão dela, mas fi-lo sozinha. Nunca me esqueci da receita”, diz, emocionada.
A mãe era mais espartana. “A minha mãe era brasileira, não me deixava cozinhar tão nova. A minha avó deixava, mas a minha mãe, não. Mas deixa-me ver. E, portanto, eu passava horas na cozinha. Ora a ver, ora a fazer, e isso, claro, foi criando um gosto especial em mim”.
Antes de ter o restaurante, Teresa Bruno dedicava-se às marmitas. “A época da pandemia foi muito forte para esse negócio, porque como os restaurantes estavam fechados, as pessoas requisitavam muito os meus serviços. Desde que abri aqui, tenho menos tempo para as marmitas, porque deixei de ter disponibilidade para fazer entregas”, conta à NiA.
Ainda assim, há clientes fiéis, que lhe pedem ementas para jantares de grupo de amigos em casa ou para festas de aniversário. “Encomendam, escolhem o que querem, eu faço e depois vêm cá buscar os tabuleiros”, diz, acrescentando que também faz eventos empresariais. “Em média tenho dois eventos por semana”, assegura, antes das despedidas. “Volte sempre, a casa é sua”. Já cá faltava.
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