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De Alfragide para casa dos clientes e feirinhas, chamuças “vendem-se aos milhares”

Da formação profissional às chamuças, Edgar Bragança aterrou na cozinha por acaso, mas é herdeiro das tradições goesas da avó.
As chamuças são as rainhas das encomendas.

Quando em 2016, Edgar Bragança deu uma sugestão à então companheira para criar um negócio de comida caseira, estava longe de imaginar que a sua vida estava a mudar. “Ela estava entre empregos e passava muito tempo em casa, algo que provoca sempre muita ansiedade. Então, lancei-lhe o repto: ‘Tu cozinhas tão bem. Porque é que não fazes umas coisas para fora e eu ajudo-te na promoção e na área do marketing?”, recorda à New in Amadora.

A vida de Edgar sempre foi longe da cozinha, embora sempre tenha gostado de comer. “Trabalhei mais de 25 anos na área da consultoria e formação profissional e essa sempre foi a minha vida, com cargos de gestão em várias empresas por onde fui passando”, conta, acrescentando que à sua formação em Gestão, juntou uma Especialização em Marketing e uma Pós-Graduação em Planeamento e Gestão de Formação.

Em 2010 com a crise do sistema financeiro, a empresa onde estava fechou operações em Portugal e convidou-o a ir para Angola. Edgar recusou, saiu e estabeleceu-se por conta própria na mesma área profissional. E assim continuou longe da cozinha, no seu próprio negócio de formação, onde ganhou muitos clientes.  

“Em 2016, depois de desafiar a minha companheira da altura, nascia a World Massala e tudo se iniciou da mesma forma que começam todos os pequenos negócios: começámos a vender para os familiares, para os amigos e para os amigos dos amigos”, afirma, lembrando que o início foi um pouco um “caminho das pedras”.

Hoje, porém, o negócio corre de vento em popa. A relação é que não. “Agora não tenho companheira, mas fiquei com o negócio”, ironiza este descendente de goeses de 59 anos, nascido em Lourenço Marques, Moçambique. “Costumo dizer a brincar que sou filho de pais asiáticos, nascido em África, vivo na Europa, já pisei o chão da América e ainda não fui à Oceânia”.

Edgar é formado em Gestão.

Sozinho, “com o bebé nos braços”, não se atormentou. “Antes pelo contrário, começou a dar-me pica e dediquei-me a fazer crescer a empresa”. E conseguiu, criando-lhe um conceito — “Comida com (c) alma” —, que se prepara para fazer nove anos em maio próximo.

“A World Massala é um micronegócio”, assevera Edgar, acrescentando que a empresa é um “one man show”, sem trabalhadores. “Tenho colaboradores apenas. O modelo de negócio é muito flexível”. Ainda assim, acrescenta, são “oito pessoas” ao seu lado, “cada um especializado na sua área e a saber perfeitamente o que tem de fazer”.

Encomendas por telefone com dois dias de antecedência

A World Massala não é um restaurante físico — é a comida que ali é feita que vai ter com os clientes: quer os que encomendam via telefone, redes sociais ou site, quer os que vão a eventos para os quais os serviços da empresa são contratados, ou ainda nas feiras e mercadinhos de rua onde Edgar Bragança marca presença.

“Temos uma ementa, que foi desenvolvida por mim, que tem um conjunto de especialidades que estão permanentemente disponíveis. Eu faço festivais, mercados, feirinhas, esse tipo de eventos, normalmente na região da Grande Lisboa, que é onde consigo captar novos clientes para o take-away”, explica.

O take-away é a principal área de negócio da World Massala: “os clientes encomendam e optam por vir cá buscar ou receber a encomenda em suas casas”, revela Edgar à NiA, alertando, porém, que “não é a lógica do ‘o que é que eu vou almoçar hoje?’”. “Não, a encomenda tem de ser feita com uns dias de antecedência e, normalmente, não é para uma pessoa. É comida ótima para juntar amigos em casa”.

As outras áreas são os Eventos — “onde raramente se levam pratos principais, apenas petiscos e pequenas iguarias” —, a Formação —“comecei a dar formação na Fundação Oriente ligada à comida goesa”.

Para lá das chamuças, o difícil é escolher

Edgar já tinha avisado que tinha criado uma ementa rica e variada, mas prepare-se porque o World Massala promete comida exótica caseira de +12 regiões do mundo. A comida goesa, ainda assim, é aquela que é mais produzida no espaço de Alfragide, que funciona como “atelier e laboratório”.

As chamuças de vitela (15€ por 12 unidades, 8,5 por 6 unidade, ou 5€ por 3 unidades) são as estrelas da companhia. “São feitas pelo método tradicional. A massa é feita por nós, dá mais trabalho, mas fica fina e estaladiça. É 100 por cento carne de vitela, não há misturas estranhas nem criatividades. É vitela, coentros, cebolas e especiarias, mais nada”, explica à NiA, acrescentando que elas podem ter grau variável de picante. Há ainda as variantes de legumes (8,5€ por seis unidades) e mini chamuças de frango (10€ por 12 unidades).

“São boas?”, pergunta-lhe o repórter. Edgar ri e responde: “Tem de provar, mas posso dizer-lhe que não têm nada a ver com umas coisas que há por aí nos cafés e que eles chamam chamuças”.

Edgar vende muitas chamuças. “Ui, são aos milhares”, diz. Quando se pede para ser mais específico (quantos milhares, em quanto tempo, etc…), pede desculpa, “mas são dados confidenciais”.

Quanto aos pratos principais, são todos pensados para quatro pessoas e o preço da ementa é a pensar nisso, mas a World Massala faz logo as contas por cabeça, antecipando-se ao cliente.

Entre os pratos principais, o que mais sai é o caril de camarão (37,80€), havendo ainda as variantes de frango ou vegetais (ambas por 31,20€). Se preferir borrego, o preço já sobe para 43,80€. O caril não é um qualquer industrial. “Sou especialista em caril, tenho desenvolvido o meu estudo e temos as nossas próprias receitas de caril, com uma combinação certa de especiarias”, diz, orgulhoso Edgar. Por isso, o cliente pode escolher mais de oito caris diferentes, incluindo o goês, paquistanês, indiano ou de fusão.

Na lista contam ainda outros clássicos como o sarapatel (39,80€ para quatro pessoas), os camarões à tailandesa ou com leite de coco (ambos os pratos a 38,80€). Mas há outras opções do mundo. Do Brasil, o bobó de camarão ou a moqueca (38,80€ para quatro pessoas). De África, a moamba e a cachupa, embora aqui só façam doses para grupos de 20 pessoas (119,80€ no total, o que perfaz 5,99€ por pessoa), até à Indonésia, com várias receitas também de autor.

No capítulo da gastronomia portuguesa, há arroz de pato, lasanha (de vegetais, de carne ou de atum), bacalhau (com grelos, com natas, espiritual ou com broa — todos a 31,20€, ou o esparguete à bolonhesa, sempre uma boa opção para as crianças.

Não temos qualquer receita na nossa ementa que seja de outrem. É comida de autor”, garante Edgar Bragança, que sempre gostou de comer e que é um fiel depositário das tradições gastronómicas goesas da avó. “Tenho de dizer que foi com ela que aprendi a cozinhar, mas na prática, ela não teve influência direta em mim, porque eu era miúdo quando ela partiu, mas essa herança passou para a minha mãe. Eu tenho receitas manuscritas dela ainda”.

Se ficou curioso, carregue na galeria e conheça alguns dos pratos da World Massala.

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