comida

Há 10 anos que este restaurante é uma autêntica “embaixada alentejana na Amadora”

Lugar ao Sul abriu em 2015, na freguesia da Falagueira. Só serve comida típica do Alentejo — até as receitas mais antigas.
Está prestes a completar dez anos.

Era suposto ser um almoço de família, como tantos outros, até o tema à mesa centrar-se no novo rumo que Rui Quintiliano queria dar à sua vida profissional. Quis o destino que a resposta estivesse, precisamente, entre facas e garfos. Rui deixou no ar que qualquer dia abriria uma tasquinha com a sogra, dedicada a comida tipicamente alentejana, até porque ela “cozinha bem”. A verdade é que a ideia teimou em ficar-lhe na cabeça, ao ponto de avançar mesmo para o negócio, em 2015.

O Lugar ao Sul foi inaugurado no dia 5 de janeiro desse ano, na Amadora. O objetivo foi criar um cantinho que transporta os clientes automaticamente para o Alentejo — pelo menos, é o que dizem, alguns com lágrimas nos olhos pelas memórias que os pratos despertam, conta-nos o proprietário. Rui nasceu na Amareleja, em Moura, e foi por lá que viveu até aos 25 anos. Pelo meio, com 11 anos, estive no seminário, mas saiu um ano e meio depois.

Entretanto, ainda foi estudar para Moura, mas sentiu uma “incompatibilidade com a escola” e acabou por deixar de estudar. Aos 15 anos, começou a trabalhar numa oficina de serralharia civil, na sua terra natal. Por lá ficou até completar 17 anos, e tornar-se empregado numa loja de eletrodomésticos. Na época, tinha ainda outra ocupação — foi DJ da discoteca Longa2, na Amareleja durante cerca de três anos.

Em 1997, mudou-se para a Amadora e começou a trabalhar como motorista de autocarros, profissão que desempenhou durante 19 anos. Entretanto, frequentou o Liceu da Amadora para terminar o 12.º ano, e saiu da empresa em 2014, principalmente pela carga horária. Depois disso, sentia-se “aborrecido”, e foi quando surgiu a conversa à mesa que despoletou a ideia de começar um negócio focado na gastronomia alentejana.

Rui, hoje com 53 anos, vive há 27 na Amadora. Conta à NiA que já visitou “alguns lugares alentejanos” e sublinha que, acima tudo, gosta de pão, mas não de um qualquer — tem de ser pão alentejano e a maior parte dos restaurantes onde foi apresentavam um produto “digno de filme de terror”. A boa notícia é que encontrou um ao seu gosto numa mercearia local. Por isso, pão já tinha. Faltava o espaço para abrir o restaurante.

Encontrou a oportunidade certa na Avenida Eduardo Jorge, onde estava aquele que, outrora, tinha sido um espaço de comida alentejana, conhecido como o Zé Barrancanho. Estava fechado há cerca de dois anos, mas Rui conhecia o proprietário e acabou por ficar com o local, que é “num sítio porreiro”. Assim, começou uma longa aventura para pôr o seu espaço ao seu gosto, com a decoração certa e o conceito que Rui imaginava poder vir a ter sucesso na Amadora.

O nome “Lugar ao Sul” foi inspirado num programa conceituado da rádio RDP/Antena 1, transmitido na década de 80. Era da autoria de Rafael Correia, que percorria Portugal em busca de histórias de pessoas e descrevia e essência de várias regiões do País. Quando ainda morava na aldeia, Rui ouvia a rubrica e considerou que era a escolha perfeita para batizar o novo spot.

O canto do Alentejo no centro da Amadora

“Somos uma embaixada do Alentejo na Amadora. Só temos comida típica do Alentejo. Defendemos a gastronomia antiga, do tempo dos nossos avós. Aquela feita no tacho, e até algumas carnes grelhadas e fritas. O foco é a comida elaborada, feita com mais tempo, paixão e dedicação”, explica o proprietário à NiA, que agora assume também a função de cozinheiro.

Ao longo da última década, já ouviu muitos elogios que o deixaram emocionado e de coração cheio — mas o maior é o reconhecimento da experiência gastronómica que quer oferecer. Destaca o episódio em que um cliente, com cerca de 80 anos, disse, visivelmente comovido, que o prato de mioleira de porco com ovos mexidos e rim lhe lembrava “a comida da mãe”. E é para estes momentos que Rui “vive”.

O espaço, que tem 20 lugares sentados em 20 metros quadrados, completa dez anos em janeiro de 2025. “Tem sido uma loucura. No início, quando abrimos, já havia um historial na casa, que estava sempre cheia. Só que ficou encerrada e perdeu-se o hábito e os clientes. Pensava que ia ter logo muita clientela e não foi assim. O sucesso foi progressivo, mas o caminho está trilhado. O que importa é ter, em qualquer projeto, qualidade nos produtos e na confeção”, diz.

Ao longo dos anos, foram “aprimorando os pratos” e conseguiram criar a própria marca. Rui considera que todo o processo foi uma “autodescoberta”, até para si. “Eu nunca cozinhei na vida. Em casa, em miúdo, não cozinhava. A minha mãe e avós é que cozinhavam. Mais velho, de vez em quando fazia um prato ou outro, mas nunca tinha cozinhado para tanta gente até ter o restaurante”.

O Lugar ao Sul está decorado com elementos tipicamente alentejanos, desde as cadeiras de palha aos xailes. As receitas estão foram pesquisadas e escolhidas pelo proprietário, todas com fichas técnicas para que o cliente saiba sempre com o que contar na ementa.

Carregue na galeria para conhecer alguns pratos do Lugar ao Sul.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Avenida Eduardo Jorge, N.º 8B
    2700-307 Amadora
  • HORÁRIO
  • Segunda-feira a sábado, das 12h às 15h
  • Sexta-feira e sábado, das 19h30 às 22h
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
alentejana

MAIS HISTÓRIAS DA AMADORA

AGENDA