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Há quase 20 anos que Deivany faz os melhores salgadinhos. Agora abriu um restaurante

A Flor do Atrium II abriu no passado dia 17, junto ao Espaço Alfragide. À sexta-feira, há sempre feijoada à brasileira.
Estas coxinhas são bem recheadas.

Foi a crise que empurrou Deivany Frois, 40 anos, para o sucesso. “Eu e o meu marido estávamos desempregados, sem qualquer perspetiva. Foi uma época mesmo ruim na minha cidade, que é Montes Claros, a norte de Minas Gerais, no Brasil”.

Deivany tinha 23 anos, tantos quantos Arlem Mistrineiro, com quem havia casado “três anos e tal” anos”. “Estávamos desesperados e houve um amigo dele que lhe disse: ‘Faz aquilo que todos o brasileiro faz: vende salgados na rua’”, recorda à New in Amadora.

O casal não tinha nada.Eu não sabia fazer salgados, não tínhamos a vasilha para levar os salgados para a rua para ele ir vender, nem tínhamos bicicleta. Foi tudo alugado. O meu marido contactou uma senhora que fazia salgados, alugou a bicicleta e duas vasilhas, uma para os salgados e outra para os sumos”.

E assim começou um negócio, com Arlem a vender na rua e nas obras de construção civil para os trabalhadores se alimentarem. “Na época, morávamos num quartinho de nove metros quadrados com uma casinha de banho. Já tínhamos um filho com três anos”.

Nos primeiros tempos, a coisa começou a correr bem, mas aos poucos, o negócio foi caindo, porque “a senhora que fazia os salgados começou a entregar salgados congelados, com menos qualidade, e a clientela ressentiu-se”.

E de novo as dificuldades a empurrarem Deivany Frois. “Decidimos que o melhor era eu aprender a fazer salgados e assim o dinheiro ficava em casa: eu fazia e ele ia para a rua vender. Tudo o que fizéssemos era para nós”, conta, entre sorrisos. Depois dos primeiros falhanços com as coxinhas de frango, a cozinheira ganhou a mão e “os clientes começaram a gostar e a aumentar as encomendas”.

Todos os dias, colocavam pelo menos um real num mealheiro de cartão. Com o pecúlio que foram juntando, tomaram a primeira decisão: “Assim que pudemos, saímos do quartinho minúsculo e alugámos um apartamento”. Foram 500 reais. Tudo pago em moedas de um real.

Quase duas décadas depois, Deivany, em Portugal, há 15 anos com o marido e com o filho, continua a fazer coxinhas de galinha com queijo catupiry, kibe, kibe com queijo, bolinhas de queijo, rissóis, empadas de galinha, pão de queijo, pastéis de vento, esfirra e toda a sorte de salgados brasileiros.

“Acabaram de sair do forno”, avisa Deivany. Os pães de queijo são uma especialidade.

“É tudo fresco, não faço nada congelado. Recebo as encomendas com um dia de antecedência e faço tudo. Às vezes, tenho de acordar às cinco e seis da manhã, mas faz parte”, diz a empreendedora.

A Santos Salgados, a empresa que criou com o Arlem, não tem mãos a medir. “Estamos sempre a receber encomendas e temos procurado ir modernizando e acrescentando mais salgadinhos à nossa oferta”, explica, garantindo que “é tudo feito com as melhores matérias-primas e, sobretudo, muito carinho”. Para encomendar basta ligar para o número 913 518 839.

Feijoada à brasileira já é um sucesso

Com o crescimento do número de encomendas, Deivany foi obrigada a deixar de fazer os salgados em casa. “Os vizinhos começaram a queixar-se e nós tivemos de encontrar uma solução”. E encontraram: um espaço em Alfragide, onde puderam concretizar um outro sonho, o de abrir o seu próprio restaurante.

E assim nasceu o Flor do Atrium II — em homenagem ao Flor do Atrium original, que ali viveu durante mais de 30 anos, antes de o dono morrer —, um espaço pequeno, com capacidade para 30 pessoas, inaugurado no passado dia 17 de janeiro.

“Nós queríamos muito ter um restaurante, até porque o meu marido sempre cozinhou. Aliás, eu costumo dizer que ele me conquistou pela barriga”, brinca Deivany. O cronograma é que lhes trocou as voltas. “Nós tínhamos uma sócia e a nossa ideia era abrir a casa só no final deste ano, mas a meio do caminho, ela foi-se embora e deixou-nos sozinhos”, relata.

Preocupados com o avolumar dos custos, uma vez que já estavam a pagar renda, decidiram abrir as portas. “Nunca tivemos medo de trabalhar, sempre fomos à luta. É claro que queríamos ter aberto o restaurante com mais tempo, com uma ementa mais pensada e estruturada, com algumas melhorias no espaço, mas teve de ser assim. Agora, aos poucos, vamos introduzindo melhorias”.

O sorriso de Deivany

As primeiras semanas têm corrido bem. “Temos sentido muito carinho por parte dos vizinhos, que têm vindo cá, que têm comido e gostado dos nossos pratos”, afirma, esperançosa, à NiA. O seu sorriso ilumina-se e há razões para isso.

O casal de brasileiros está em Portugal há 15 anos.

Todos os dias há sempre dois pratos do dia, um de carne e um de peixe, além dos bitoques e pratos ao momento. “Isto, claro, fora as encomendas que os clientes possam querer fazer”, esclarece.

Nem de propósito: menos de dez minutos depois, o telemóvel da cozinheira toca, junto à caixa. Deivany atende e conversa durante uns minutos com o cliente. Desliga e dá dois passos atrás do balcão, indo ao encontro do marido, “escondido” na pequena cozinha a apurar a feijoada à brasileira, que irá servir ao almoço. “Amor, temos uma encomenda de lagarinhos de porco preto para domingo. Temos de ir comprar”. Na Flor do Atrium é assim: “o cliente apetece-lhe, pede-nos e nós fazemos”.

Por enquanto, ainda com pouco tempo de vida, há uma certeza: “A feijoada à brasileira vai ser o nosso prato fixo das sextas-feiras. É um prato feito à moda de Minas Gerais, com a couve mineira, e as pessoas têm gostado muito. O feijão tropeiro legítimo, “outro prato da região à base de feijão, caldo, farofa, torresmos e linguiça calabresa”, também será integrado em breve na lista.

Perdido no meio dos tachos fumegantes da pequena cozinha, Arlem Mistrineiro, também com 40 anos, está a concretizar um sonho. “Lá no Brasil, a minha mãe teve um restaurante e eu às vezes ajudava. Sempre me ajeitei, já em pequeno eu adorava estar com a minha mãe na cozinha”, recorda, enquanto aproveita para ir mexendo a enorme panela onde o feijão vai apurando.

Arlem sempre trabalhou. Agora, é diferente: o negócio é seu e da mulher. “Medo? Há sempre um medinho, mas nunca tivemos medo dos problemas. A nossa comida é boa e vai correr bem”, garante.

Carregue na galeria e veja alguns dos salgados e a especialidade da nova casa, a feijoada à brasileira.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. Alberto Aldim 20A
    2610-001 Amadora
  • HORÁRIO
  • De domingo a sexta-feira, das 11h30 às 16h30
  • Encerra ao sábado
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
Brasileira

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