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No Cantinho da Nonô a comida paga-se com amor. Os clientes vêm de todo o mundo

Restaurante africano da Damaia está sempre cheio. "70% dos clientes são europeus", diz a fundadora são-tomense que chegou a Portugal há 26 anos.
Vai uma moamba com funge?

Se chegarmos à Damaia e perguntarmos por Eleonora Carlota, o mais certo é recebermos como resposta o silêncio e um encolher de ombros. “O meu nome é um bocado complicado”, reconhece. “Mas aqui na terra toda a gente me conhece por Nonô”, conta a são-tomense, 45 anos.

Nonô é uma mulher feliz que canaliza as suas energias para o bem-estar dos outros. Literalmente. É assim no seu restaurante, é assim na Associação Esperança Nonô, que fundou e que é praticamente a única financiadora, e é assim nas massagens que dá, muitas vezes, sem cobrar dinheiro, só pelo prazer de ajudar os vizinhos e amigos.

“Sabe, eu sou muito feliz em Portugal. Fui muito bem recebida, sem preconceito, com as portas abertas. O mínimo que eu posso fazer agora, que tenho condições, é retribuir e ajudar quem mais precisa”, desabafa à New in Amadora.

Mas já lá vamos. Primeiro, o restaurante, aberto há cinco anos, uns meses antes de o mundo parar por causa de uma pandemia de que nunca ninguém tinha ouvido falar.

“Foi uma grande pontaria, porque tivemos de fechar logo a seguir por causa da Covid 19. Aderimos às três plataformas, Uber, Globo, e Bolt, nós próprios íamos fazer entregas em casa das pessoas. Tivemos de reduzir o horário do pessoal. Recorremos a vários mecanismos para fazer face a todos os problemas. Foram tempos muito difíceis e desesperantes”, recorda, até porque Nonô tinha investido “tudo que tinha não tinha na abertura do restaurante”.

Nonô: uma atleta a querer voar mais alto

A empresária, que já tinha sido cozinheira noutro restaurante, quando trabalhava por conta de outrem, não é “mulher de desistir”. “Sou uma atleta e habituei-me a lutar pelos meus objetivos”, explica.

E faz bem. “Agora, o Cantinho está a correr muito bem. O restaurante, felizmente, é uma casa muito conhecida, tanto a nível de Portugal, como a nível internacional. Temos clientes que vêm de todo o lado, de S. Tomé, de Angola, de Cabo Verde, da Europa, da América, vêm de todo o lado”.

A proprietária encontra razões para o sucesso. “Por um lado, a qualidade da nossa comida aumenta o passa-palavra. Depois, o facto de termos uma pontuação muito alta no The Fork, também puxa mais clientes. Temos muita procura nas plataformas, muitas reservas de mesas”, assegura.

Apesar de o Cantinho da Nonô também ter pratos europeus, as especialidades são mesmo de comida africana. De todo o continente: Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné e São Tomé, de onde Eleonora é natural.

“Vim para Portugal muito pequena, há 26 anos. Era uma adolescente. A minha mãe já cá estava. Eu praticava atletismo em São Tomé, tanto a nível nacional como internacional. Quando nós vivemos num país pequeno, e viajamos e conhecemos outras coisas, queremos sempre mais. São Tomé já era pequena para mim e vim para Portugal experimentar. Amei Portugal, fui muito bem tratada e fiquei”, resume.

Nos primeiros tempos, ainda viveu no Lumiar, em Lisboa, mas acabou por vir para Amadora. Estudou Animação Turística, na escola Seomara da Costa Primo, na Amadora, viveu na Venteira, e depois comprou a sua casa no Casal de S. Brás. “Sou casada e tenho dois filhos. O mais velho tem 24 anos, e o mais novo, 20, e já trabalho comigo”, conta à NiA.

Uma ementa rica e bem diversificada

No Cantinho da Nonô, a dificuldade está na escolha. É que a ementa é extensa, com mais de duas dezenas de pratos. De S. Tomé vem o calulú de peixe (15€), o peixe andala grelhado com banana frita e rancho de coco (14,5) mas há também o caril de gambas (15€), o vatapá de camarão à moda do Brasil (15€), o molho de polvo à moda de S. Tomé (15€), a cachupa rica (15€), a tábua mista Terra Mar (30€ para 2 pessoas), que é uma dos pratos mais famosos aqui da casa porque é uma tábua, com carne, peixe e camarão.

“Temos muita coisa boa: a moamba com funge, de Angola, o caldo de peixe à moda da Guiné, a feijoada à moda da terra, o estufado de javali. A nossa ementa é muito diversificada, e os pratos são feitos na hora, porque, como temos uma grande procura, estão sempre a sair”, explica.

A cozinha é non-stop, todos os dias, entre ao meio-dia e as 22 horas. “Trabalhei como cozinheira noutro sítio e já era assim. E eu sempre pensei que quando estamos de folga ou ao fim de semana, é bom podermos comer mais tarde, e não sermos obrigados a almoçar entre as 13 e as 15 horas”.

Nonô tem pessoal na cozinha, mas se for preciso, numa emergência, também vai para a cozinha. “Já fui cozinheira, portanto sei bem o que é. Mas tenho a equipa toda montada. Somos sete pessoas a trabalhar aqui. Isto não pode ser uma coisa amadora. Há dois turnos de oito horas. Eu é que estou aqui de manhã até à noite, mas sou a patroa. Alguém tem de sofrer”, ri-se.

O número de refeições por dia é variável. “Às vezes, podemos dar 40, 50, 60. Ao fim de semana, trabalhamos muito mais. Fazemos 80, 100 refeições por dia, entre almoços e jantares. É conforme”, diz a proprietária, que acrescenta que “60 a 70% dos clientes do restaurante são europeus”. “Ainda ontem tive aqui a casa cheia e 80% eram portugueses”.

A energia da antiga atleta parece ser inesgotável. “Estou feliz com o sucesso do Cantinho da Nonô. Muito, muito feliz. Só tenho de agradecer a Portugal, um país acolhedor, que nunca me tratou com diferença. Tenho aprendido muito com os portugueses. É uma honra servir aqui e perceber que as pessoas gostam e falam bem da nossa comida”.

A palavra “gratidão” sai-lhe da boca uma, duas, cinco vezes ao longo da conversa com a New in Amadora. E também a palavra “entreajuda”. Foi a pensar nisso que criou a Associação Esperança Nonô, “com o objetivo de poder ajudar a comunidade da Damaia, a comunidade de Portugal e do mundo africano”.

E as ajudas são concretas, embora Nonô seja a principal cabeça e os principais braços da Associação. “Fazemos cabazes alimentares, ajudamos a comprar o passe, a medicação, recolhemos roupa para ajudar as pessoas mais desfavorecidas”.

A quota é simbólica: “São 2€ mensais, e quem pode dar mais, dá mais. Eu dou mais, porque felizmente dar, mas há muitos que não podem”.

Ao longo do dia, Nonô ausenta-se algumas vezes do seu restaurante. Mas não vai longe. “Tenho uma loja pequena aqui perto, onde faço massagens relaxantes e terapêuticas. Uma hora, uma hora e picos de massagem, custam 35€. Mas esse dinheiro nunca é para mim, é para a associação. É uma forma de ajudar quem mais precisa”.

Nonô não tem dúvidas. Se todos canalizarem um pouco da sua energia para ajudar os outros, “o mundo será muito melhor”.

Carregue na galeria para ver alguns dos pratos que pode comer no restaurante.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Mouzinho de Albuquerque, 14 A, Damaia
    2720-390 Amadora
  • HORÁRIO
  • De segunda-feira a domingo, das 12 às 22 horas
  • Encerra à terça-feira.
PREÇO MÉDIO
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