O letreiro é bem visível da Avenida Elias Garcia. A vermelho carregado, a frase “Já abriu” não deixa margem para dúvidas. A verdade é que, inaugurado em 1992 na Amadora, o Jorge dos Caracóis abre e fecha todos os anos. “Somos uma casa sazonal. Este ano abrimos a 22 de abril e assim continuaremos até setembro”, conta à New in Amadora Jorge Rocha, 63 anos, que veste um polo azul-escuro que identifica o estabelecimento.
“Foi uma casa de petiscos durante 27 anos Foi aqui que comecei a ganhar a fama dos caracóis, mas naquele tempo vendíamos tudo o que era petiscos e comia-se aqui, porque tínhamos uma sala de restaurante”, recorda.
Moelas, pipis, camarão de Espinho, camarão do rio, salada de polvo, salada de ovas ou salada de orelha. Por aqui vendia-se “tudo o que possa imaginar”. “As pessoas faziam fila à porta, sobretudo no verão”.
Em 2018, Jorge abriu na margem sul do Tejo um segundo restaurante, maior e voltado para os petiscos. “Foi nessa altura que decidi especializar esta casa só na venda take away de caracóis e caracoletas cozidos e vivos”.

O negócio corre bem, mesmo que este ano o tempo ainda esteja intermitente. “O sol é que puxa o petisco, é que puxa o caracol, é que puxa a imperial. Se está a chover, o negócio é mais fraco, mas mesmo assim não me posso queixar”, sublinha à NiA.
Jorge não hesita em dizer que os petiscos são a sua vida. “Já trabalhei em Lisboa durante muitos anos em grandes casas e cervejarias. Comecei a aprender isto em miúdo, porque trabalho na restauração desde os 13 anos de idade. Nunca fiz mais nada na vida do que trabalhar na indústria hoteleira. E a gente ganha uma paixão a isto que é difícil sair”.
Qualidade faz a diferença
Com a sua experiência, o empresário sabe bem que a sua casa é diferente da concorrência. “Na Amadora há muitos cafés e restaurantes que vendem caracóis, mas não conheço outra casa como esta, só dedicada aos caracóis”, diz, enquanto olha para o lado e passa os olhos pela arca onde caracóis e caracoletas vivas aguardam comprador ou que sejam convocadas para a panela.
Tudo está imaculado. Os carros de inox alinhados, com três grandes tachos em cima e, acolá, um elevador, para transportar o peso bruto de um tacho cheio de caracóis, que vem da cozinha. “Há aqui um investimento muito forte em maquinaria, em equipamento e nem todos os empresários têm essa capacidade”, sublinha, mesmo sem ter sido necessário fazer a pergunta.
É a qualidade dos bichinhos que faz do Jorge dos Caracóis uma casa afamada na Amadora. E o segredo é só um. “Não vale pena estarmos aqui a inventar ‘ah e tal é um ingrediente mistério’. Não, não é, é a qualidade dos caracóis. Nós somos muito exigentes a preparar os caracóis. A qualidade tem de ser irrepreensível. Depois, claro, há aqueles toquezinhos que vamos aprendendo e aperfeiçoando”.
A receita “é a mais simples possível”: água, sal e pouco mais, diz o empresário. Mas antes da cozedura, há que preparar o petisco.

“Trabalhamos muito o caracol. É todo lavado, subido, tudo o que vai para a panela vai vivo. Não há um caracol morto que vá para a panela. Temos muito trabalho. Temos máquinas para lavar o caracol, temos máquinas para subir o caracol (os mortos ficam em baixo porque não têm vida, e só aproveitamos os vivos). Porque um caracol morto na panela pode contaminar com um odor e sabor estranhos um tacho inteiro de caracóis”, explica.
Jorge marca o ponto na Amadora todos os dias de manhã, mas é o filho que toma conta das operações a partir da tarde. “Só começamos a cozer os caracóis a partir das 15 horas. Ele é que gere isto. Está muito dedicado à loja, gosta muito e isso dá-me uma grande tranquilidade, porque me permite ir para o restaurante fazer os petiscos. É que eu sou o homem da cozinha”.
Todos os dias há caracóis
“Começamos com um tacho deste tamanho, depois, daqui a duas horas entra outro ao lume”, acrescenta. Já as caracoletas são diferentes: assadas com manteiga, molho de limão e picante, “para quem gosta”.
“Só fazemos por encomenda, porque a caracoleta não se pode aquecer e não é uma coisa que se coma fria. Os clientes encomendam, vêm buscar e levam para casa para comer logo”.

Uma dose de 30 caracoletas custa 13,5€. “Eu adoro caracoletas. Começou como uma brincadeira e passei a gostar muito”. No entanto, afiança, não é um petisco que se venda tanto como os caracóis, que são aos milhares.
“Nos bons dias de verão, com futebol, sol e calor, vendemos cerca de 300 quilos de caracóis”. Há quatro doses de tamanhos e preços diferentes: a caixa pequena, para duas pessoas, custa 8,5€. A média, 13,5€ e a grande, 21€. Já o balde, custa 30€.
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