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O pequeno café da estação da Reboleira que vende quase 500 salgados por dia

Todos os dias passam pelo Café Brasil centenas de pessoas a caminho do Metro. 85% são brasileiros e africanos, diz a dona.
Salgados grandes e quentinhos: quem resiste?

Quando saiu de Goiás, no Brasil, há 20 anos, cruzou o Atlântico e aterrou em Portugal, Maria Sousa sabia que vinha “para ficar”, mas ainda não tinha trabalho em vista. “O meu irmão já cá vivia e foi um apoio importante. Vim sem trabalho, mas não me atemorizei. Sempre fui uma mulher de armas, uma lutadora e empreendedora”, conta à New in Amadora a empresária que tem um pequeno café na Reboleira.

No Brasil, era dona de uma loja de roupa. O negócio corria bem, mas o desejo de ter mais paz e segurança, e os apelos do irmão, fizeram-na vir para Portugal, acompanhada pelos dois filhos, Ana e Gabriel, hoje com 24 e 23 anos, respetivamente. Maria, 40, foi mãe cedo: tinha 16 e 17, quando engravidou. E uma vez mais não se atemorizou.

Há quase nove anos, quatro meses após a abertura da estação de Metro da Reboleira, abriu o café nas profundezas da Amadora — é preciso descer as escadas rolantes, a caminho da plataforma de metro, para encontrar “o pequeno ponto”, que não tem mais do que um balcão e duas mesas.

“Quando abri o café foi já a pensar nos meus filhos. Tinham 14 e 15 anos e precisavam começar a aprender o que era a vida.” Maria tinha — e tem — outro emprego. No café, trabalhavam duas pessoas de família, que contavam com apoio de Ana e Gabriel.

“Mais tarde, a Ana acabou por perceber que não gostava muito do trabalho de balcão, nem de lidar com o público e abriu um salão de cabeleireiro para ela. Também atende clientes, mas é diferente”, concede a mãe.

A mais sorridente da Reboleira

Há cerca de três anos, Maria Sousa percebeu que o espaço comercial tinha potencial para crescer e decidiu acumulá-lo com a sua atividade de consultora imobiliária na Zome. “Abro o café às 6h45, estou lá até às 10 e volto às 17h30 para ajudar o meu filho. Entre as 10 e as 17, ele toma conta do café sozinho”, explica. Depois, ficam os dois até à hora de fecho, às 21 horas. “Só encerramos ao domingo.”

“O fluxo de clientela é muito diferente, porque como estamos numa estação de metro, há centenas de pessoas que passam aqui diariamente”, recorda a empresária brasileira. “De manhã, na ida para o trabalho, e ao fim da tarde, no regresso a casa, é quando há maior volume de atividade.”

Mulher vistosa, Maria sabe que tem um outro trunfo natural: a empatia. “Sou querida, sou naturalmente simpática, sou mais sorridente do que os outros — e isso é meio caminho andado para o sucesso do negócio. Conheço a maior parte dos clientes, que vêm cá diariamente. Gosto de os tratar a todos pelos nomes”, afirma.

Assim que recebe alguém novo, a proprietária pergunta logo o nome, “porque isso dá uma maior proximidade e uma familiaridade importante”. “Se gostarem do meus produtos, se passam por aqui todos os dias, de manhã e à tarde, e, se ainda por cima, encontram um tratamento simpático, próximo e familiar, é natural que voltem”, justifica.

Mas será esse o único segredo do sucesso do Café Brasil, rodeado por outras cafetarias e pastelarias, quer na estação da CP, quer na do Metro da Reboleira? A empresária diz que há outra razão. E, aí, está a jogar em casa.

“A minha sorte foi ter aberto um café brasileiro, porque é isso que me diferencia. Habitualmente, só tenho uma travessa com bolos de Portugal, com merendas, bolo de arroz, pastéis de nata e queques. O resto são salgados e bolos do Brasil”.

Maria Sousa justifica a opção. “Não é por ser brasileira que abri um café destes. Acontece que a maior parte das pessoas que por aqui passam são brasileiros e africanos, porque muitas pessoas destas origens moram aqui na Reboleira é uma zona da Amadora muito escolhida por estes imigrantes para morarem. Diria que representam 80 por cento dos nossos clientes. Por isso, especializei-me nestes produtos”.

A convicção da dona do café baseia-se na própria experiência e na observação. “Os brasileiros e os africanos gostam, geralmente, de comida bem temperada, forte, apaladada. De manhã, por norma, o português gosta muito de tomar um cafezinho com um pastel de nata. Já os brasileiros e africanos comem duas coxinhas, um pão de queijo e um pastel [risos].”

E, se os cliente pedem, Maria vende. “O carro-chefe [expressão brasileira que significa ‘o que se destaca’ e, neste contexto, ‘os mais vendidos’] são a coxinha de galinha e o pão de queijo”, aponta.

“Em média, todos os dias, vendemos cerca de 160 coxinhas e 160 pães de queijo. Os outros salgados não se vendem tanto, mas tudo somado, ao final de um dia são quase 500 salgados que saem do Café Brasil”, diz à New in Amadora.

A maioria — das coxinhas de galinha com e sem queijo, a esfirra de carne, empadas de galinha, pastéis de carne de vaca, de frango ou kibbi — custa 2€ cada. Há ainda o empadão de galinha a 3,30€, o cachorro a 2,90€ e o pão de queijo a 1,70€.

Os salgados vêm de uma empresa especializada e, garante Maria, “são fantásticos”. “Tudo o que são bolos brasileiros são feitos por mim, como o de milho, de coco e de chocolate. E ainda faço os bolos no pote”, acrescenta.

“Têm muita procura. Há dias em que temos clientes que levam para casa ao final da tarde, na viagem de regresso. Há bolo no pote de doce de leite, de Kinder, de chocolate Oreo, de morango e de chocolate com morango” — custam 4€ cada.

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