Há um aroma inconfundível no ar à medida que nos aproximamos do número 19 da Rua Alves Redol, na Damaia. Assim que se entra na loja térrea da freguesia de Águas Livres, o cacau devora-nos. É natural, esta é a principal matéria-prima da Ceu Chocolatier, uma “pequena empresa mas grande em sabor”, como diz Céu Carvalho, fundadora, chefe executiva e responsável pela investigação e desenvolvimento de produto.
Há 20 anos que Céu produz chocolataria e confeitaria de qualidade. “Trabalhamos num processo artesanal certificado, ainda mantemos a tradição da arte da chocolataria toda manual, sem recurso a máquinas”, conta à New in Amadora, esta “amadorense de gema” de 51 anos, formada em Gestão de Produção Alimentar na área da Pastelaria e especializada em chocolate.
O seu amor à Amadora não é apenas uma mera formalidade, que fica bem dizer numa reportagem. “Sou amadorense com muito gosto. Nasci na Falagueira-Venda Nova e, portanto, sou amadorense de gema. Para mim sempre fez todo o sentido trabalhar a culturalidade que temos no concelho”, acrescenta.
Céu Carvalho fica revoltada sempre que vê notícias negativas sobre a Amadora e o preconceito que existe sobre quem cá mora. “A Amadora é uma terra peculiar, riquíssima, com 110 culturas e que não é só aquilo que passa nas notícias. Há muito por descobrir, há muita história, muito património e uma multiculturalidade que, se as pessoas não se deixaram enveredar pelos preconceitos, é muito importante”, sustenta.
A chocolateira sente-se uma “embaixadora da Amadora” e sendo uma amante de chocolate, a ligação tinha de ser óbvia. No bouquet de bombons, chocolates, biscoitos e confeitaria que produz com a sua equipa todos os dias, há alguns que são uma homenagem à sua cidade.
“A nossa primeira criação dedicada à Amadora foi o Bombom Deusa Ruma, porque no latim e no árabe ruma significa romã, que é um fruto muito ligado à história da Amadora”, revela à NiA Céu Carvalho, que acrescenta que, noutros tempos, as terras da Porcalhota — antiga designação da Amadora, até que o Rei D. Carlos, em 1908, decretou a mudança de nome — tinham muitas romãzeiras.
“Aliás, a romã está presente na toponímia da cidade, já que o o brasão da Amadora tem uma romanzeira debaixo do aqueduto, outro símbolo local. A Amadora era muito rica em moinhos, tinha muito trigo, mas era a romã que nos caracterizava. E isso inspirou-nos para criar o primeiro bombom dedicado à Amadora, que é um bombom único e icónico e tem mesmo romã que se envolve com o chocolate negro”, sublinha.
E é bom?, pergunta o repórter. Sem se deter, devolve a pergunta: “Se é bom? Posso dizer-lhe que é um casamento perfeito”.
Não só de bombons vive a Amadora
A originalidade da Céu Chocolatier não se ficou por aqui. “Criámos também as Saloias da Amadora, que não é um bombom mas um biscoito. Como o chocolate é um produto sazonal, quisemos ter um produto que nos representasse dentro e além-fronteiras e que fosse menos perecível. E criámos estas Saloias da Amadora, que são biscoitos que levam cacau e romã”.

Céu, muito habituada a ser relações públicas da sua empresa, a ser entrevistada e a ir a programas de televisão, não se detém. “Mais tarde, fomos desafiados por pessoas do concelho para que desenvolvêssemos um produto que estivesse ligado a outro símbolo do concelho, que é o Aqueduto”, recorda.
A doce criação é um “fofo de cacau de São Tomé com creme de romã e bagos de romã. E estamos internamente a desenvolver um quarto produto ligado à Amadora, e isso orgulha-nos muito”.
Apimentar os chocolates dos namorados
Chocolates rimam com amor. E a Céu Chocolatier não podia deixar passar em claro o Dia dos Namorados, que se assinala a 14 de fevereiro. “Estamos a preparar uma coleção específica para o Dia dos Namorados para apimentar o palato dos nossos clientes”, afirma, sem revelar ainda grandes pormenores.
Perante a insistência, responde. “Em breve vamos revelar as novidades, mas posso dizer-lhe que terão um toque de picante e a ideia é ser uma experiência sensorial. Será uma coleção de bombons sensoriais”, reforça à NiA.
O segredo é sempre a alma do negócio, lembra a chefe executiva que deixa claro que o nome da empresa não está diretamente ligado ao seu próprio nome. “Eu sei que sou Céu e que a empresa se chama Céu Chocolatier, mas é uma coincidência”, brinca, acrescentando que o “céu da empresa é um céu doce”. Até porque, ressalva, apesar de ser a fundadora e a principal responsável, “isto não é a empresa da Céu, é uma equipa e sem os restantes elementos seria impossível ter sucesso”.
Os três produtos ligados à Amadora — Deus Ruma, Saloias da Amadora e Aquedutos — vão ter em breve mais companhia. “Estamos a desenvolver internamente um novo doce, que a seu tempo será revelado.

Só usam cacau de S. Tomé. “Para nós, é o que faz sentido. É a nossa verdade, é o produto no qual acreditamos e, portanto, especializámo-nos em criar doçaria e chocolates com este cacau”. Céu Carvalho prefere não revelar quantos quilos de cacau usam por ano nas suas criações. “É uma questão de posicionamento, não gostamos de revelar esses dados, mas posso garantir-lhe que são muitos quilos”, esclarece.
Orgulhosa defensora das raízes multiculturais da Amadora, a chocolateira explica que a empresa é “inclusiva”. “Preocupamo-nos em ter outros produtos, outras texturas e outros sabores, que representam essa tal diversidade”.
“Temos feito uma seleção de produtos endógenos de cada latitude e que se possam enquadrar na nossa matéria-prima principal. Fomos buscar as pimentas e as especiarias, trabalhamos com outros sabores da Índia. Usamos frutos secos de Portugal, como amêndoa e a noz, que ligam muito bem com chocolate. Também trabalhamos com o limão siciliano, ou seja, envolvemos outras culturas”, conta.
Falar de chocolate com Céu Carvalho, percebe-se, é um prazer. “Isto é terrível, mas sou uma chocolateira inveterada desde criança”, diz, entre gargalhadas. Recorda-se dos prazeres de comer “o Coma com Pão e as Sombrinhas da Regina”. “Eram os chocolates mais populares daquele tempo”, justifica.
Esse, porém, não era o seu maior pecado. “Lembro-me, quando era miúda, havia a tradição de ter chocolatinhos na árvore de Natal. E eu desenvolvi uma técnica muito bem apurada de desembrulhar as pratas, comer o chocolate e voltar a compor tudo muito bem para colocar de novo na árvore. Tudo sem que a minha mãe descobrisse a marosca. Porque os chocolates só se podiam comer depois do Natal. Foi o meu pecado durante muitos anos”, conclui.
Carregue na galeria e conheça as doces criações de chocolates da Céu Chocolatier.