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A loja que adoça os programas de Cristina Ferreira é da Amadora e tem 63 anos

Foi uma fábrica de móveis, hoje vende equipamentos hoteleiros. O fundador, Eduardo Verde, tem 91 anos e continua no batente.
Tem bom aspeto, não tem?

Sexta-feira, 31 de janeiro, 10 horas da manhã. Nos estúdios da TVI, Cristina Ferreira está sentada, ao lado de convidadas, à mesa de um café. É fictício: a apresentadora está mesmo a conduzir o seu programa matinal, num segmento dedicado às conversas que os portugueses têm à mesa do café ou de uma casa de chá.

No cenário real, aparecem mesas redondas e cadeiras e uma vitrina frigorífica com bolos. Não são para comer, apenas para enfeitar. Os equipamentos e mobiliários foram cedidos pela EVA — Eduardo Verde da Amadora, a designação popular da empresa Eduardo Verde — Equipamentos Hoteleiros, uma empresa fundada em 1962 no concelho.

“Aqui, ninguém nos conhece pelo nome oficial, mas sim pela Eduardo Verde Amadora, porque o grande obreiro disto tudo é o meu pai, hoje com 91 anos e que e continua a gerir a empresa e todos os dias e a abrir a porta às 9h30 e fechá-la às 19 horas”, conta, orgulhoso, à New in Amadora, Carlos Verde, 60 anos, filho do fundador.

Já voltamos à empresa e à sua rica história na freguesia da Venteira. Por enquanto, o regresso à televisão e a Cristina Ferreira. “Nós participamos muito na TVI e na SIC. Sempre que as produções nos solicitam para levarmos para os cenários os nossos equipamentos. Neste caso, foi no “Dois às 10”.  Por isso, a produção da Cristina Ferreira chamou-nos para nós ajudarmos a dar verdade ao cenário. Fornecemos a vitrina, as mesas e as cadeiras, a título de promoção. É bom para todos”, reconhece o empresário.

A casa de chá de Cristina foi recriada por uma empresa da Amadora.

Apesar de não conhecer pessoalmente Cristina Ferreira, Carlos sublinha que esta não é a primeira vez que a EVA trabalha para os programas da apresentadora. “Já quando ela estava na SIC, fomos chamados. Tal como aconteceu num programa da Fátima Lopes”, conta, acrescentando que “é sempre bom ver a Amadora representada na televisão sem ser pelas piores razões”.

Da Amadora para o mundo

Hoje, a Eduardo Verde da Amadora vende “todo o tipo de equipamento hoteleiro: máquinas de lavar loiça industriais, bancadas frigoríficas, máquinas de café, torradeiras, fiambreiras, máquinas de gelo”, tudo numa loja e área de exposição de grandes dimensões (cerca de mil metros quadrados) na Rua Pio XII, onde antigamente funcionou um laboratório da Pantene.

“A nossa empresa fornece equipamento hoteleiro para muitos sítios. Não só em Portugal, mas também no estrangeiro. Temos clientes em Bruxelas, em Moçambique, em Angola, em Cabo Verde, em Macau, em Londres, em Cardiff, vindos de todo o lado”, enumera à NiA.

O empresário acrescenta que muitos dos clientes estrangeiros “são emigrantes portugueses que abriram os seus estabelecimentos comerciais nos países para onde foram, mas também já temos muitos clientes que não têm nada a ver com Portugal, mas que consultam os preços e percebem que a nossa empresa produz equipamentos de alta qualidade e a preços mais competitivas do que nos seus países de origem”.

Carlos Verde não tem dúvidas que o negócio vive dias desafiantes. “Há mais concorrência, claro, mas sobretudo, há muitos sites que vendem muito equipamento a preços cada vez mais baixos. Antigamente, o cliente privilegiava muito a qualidade dos produtos, mas também a relação de proximidade com a sua loja, por causa da nossa boa assistência técnica”.

Agora porém, “existe uma nova geração de empresários, que não se importam tanto com a qualidade e compram a preços mais baixos equipamentos que vêm da China, da Turquia e de vários outros países com mão de obra barata. O problema é que quando avariam, não têm assistência disponível”.

Às vezes, vêm ter connosco: ‘Ah, comprei este equipamento há não sei quanto tempo, não me lembro bem onde. Ele avariou agora. Conseguem dar uma ajuda?’ Nós não conseguimos”, conta.

Mão para os móveis e olho para o amor

A Eduardo Verde não foi sempre uma loja de equipamento hoteleiro. Em 1962, quando o pai fundou a empresa deu-lhe o nome de Fábrica de Mobiliário Eva de Eduardo Verde. “Funcionávamos ali na Rua de Santo António e fabricava mesas e cadeira de alta qualidade. Era o meu pai que as fazia. Ainda hoje existe mobiliário fabricado pelo meu pai por aí espalhado”, conta, orgulhoso.

E dá exemplos. “Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, por exemplo. Foi o pai do Paulo Portas [Nuno Portas, arquiteto] que desenhou as cadeiras e nós fabricámos. Também as antigas cadeiras que estão nos Pastéis de Belém foram fabricadas por nós”.

Carlos começou cedo a acompanhar o pai no negócio. “Nos meses verão ia com ele visitar clientes”. Foi ficando, apesar de se ter formado numa área completamente diferente, Matemáticas Aplicadas.

“Sempre fui bom com números. Eu queria Medicina, mas não tinha média para isso e acabei entrar em Matemáticas. Aliás, cheguei a ser convidado a dar aulas na universidade, mas não foi esse o meu caminho”.

O mais importante do curso foi, porém, ter conhecido a mulher. “Não foi tudo perdido”, diz na brincadeira. Quando a pergunta fatal surge — “está casado há quantos anos?”—, Carlos repete-a em voz alta para dar balanço para a resposta. “Estou casado há quantos anos?” Do lado, uma voz feminina: “Trinta e dois”, seguida de mais uma risada. “É a minha mulher. Eu sabia que era à volta de 30 [risos], isto hoje não vai correr bem [nova gargalhada].

Carlos e Eduardo: pai e filho à frente do negócio.

Eduardo Verde junta-se à conversa. O fundador da empresa continua, aos 90 anos, a marcar presença diária e em full-time. “Aqui toda a gente nos conhece. E nós conhecemos toda a gente. Basta falar do Eduardo Verde”, diz, enquanto dá passos pequeninos e recorda quando o negócio começou. Memória não lhe falta.

“Estive noutra casa, onde conheci a minha mulher. E depois, era para ir para a tropa, mas eu não quis e fingi que tinha um problema da perna”, recorda divertido. O filho interrompe. “Há quantos anos está casado com a mãe?”, pergunta, entre risadas. Eduardo não hesita nem dois segundos. “Há 63 anos. Fora os nove anos que namorámos”, diz o fundador.

“Está a ver?”, pergunta Carlos, virando-se para o repórter. “Eu tenho 60 anos e não me lembrava ao certo há quanto tempo estou casado. O meu pai tem 91 e não perde a conta aos anos em que está com a mulher”, atira entre gargalhadas. “A minha única mulher”, conclui o pai.

Carregue na galeria e conheça um pouco mais da loja Eduardo Verde.

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