compras

A mulher que não se queria casar agora ajuda outras a cumprir o seu sonho

Sempre viveu na Amadora e é cá que tem o atelier. A época dos casamentos está a chegar e até maio já tem 20 vestidos encomendados.
"Não faço nada por Pinterest. Todas as criações têm de levar um toque", assegura Helga.

O fascínio da moda nasceu com ela. “Eu era muito pequena, talvez com cinco ou seis anos, e já fazia os vestidos das minhas bonecas”, conta Helga Campos, 47 anos, à New in Amadora. Eram quatro, as suas bonecas, “ao estilo Barbie”, mais as das amigas, que foram as suas primeiras ‘clientes’.

Sempre foi muito “habilidosa com as mãos” e “desde os seis anos já cosia à mão”. “A minha mãe supervisionava, claro, estava sempre atenta, para não haver ali qualquer acidente”, recorda. Não há registo que tenha havido. “Nunca me cortei, nunca piquei, isto nasceu mesmo comigo”.

Helga era uma “miúda muito feminina”, “um pouco coquete e vaidosa”, reconhece. Passava o tempo a desenhar e a aproveitar os restos de tecido que a mãe tinha lá por casa, na Falagueira, bairro da Amadora, onde sempre morou até ser adulta.

Ninguém ficou admirado na família quando, à entrada do 10.º ano de escolaridade escolheu Artes e Ofícios. “Era muito óbvio, eu sabia que queria trabalhar com tecidos”. E a verdade é que o tempo veio a dar-lhe razão.

Este mês de março assinala 25 anos de trabalho na área têxtil e tem há oito um atelier onde faz vestidos de noiva. “Na verdade, também faço fatos de gala, de cerimónia e de festa — sempre fui muito festeira —, mas os vestidos de noiva são a principal aposta”, conta à NiA esta mulher que, por ironia do destino, nunca quis casar-se.

“Casar-me?”, dá uma gargalhada sonora. “Eu queria lá casar-me. Nunca quis. Palavra de honra. Nunca tive qualquer sonho em casar-me. Aliás, não queria casar-me, não queria ter filhos, nada”, diz, divertida. Só que a vida troca-nos sempre as voltas, dizemos-lhe. Helga pega no mote e vai por aí fora. “Pois, a gente encontra a pessoa certa e, olhe, estou casada há 23 anos e tenho dois filhos, dois rapazes, um de 20 e outro de oito anos”.

“Preocupei-me muito com a minha formação”

O primeiro vestido de noiva que desenhou foi no 10.º ano no curso de Artes e Ofícios. “Eu já fazia muitos croquis, embora não fossem de noiva. Mas quando fiz o primeiro de noiva, fiquei orgulhosa, mas, sinceramente, aquilo não mexeu comigo. Não achei que eram vestidos de noiva que queria fazer para o resto da minha vida”, conta.

Começou a desenhar muito nova e aos seis anos já vestia as suas bonecas com criações suas.

Quando acabou o 12.º ano, foi para o CIVEC – Centro de Formação Profissional da Indústria do Vestuário e Confeção, em Lisboa, que deu origem em 2011 à Modatex, a grande escola profissional da área, que resulta também da fusão do CITEX (Porto) e do CILAN (Covilhã).

“Preocupei-me muito com a minha formação. Fiz curso de moda e modulagem industrial e depois tenho vários cursos mais pequenos e formações que fui fazendo”, sublinha Helga, que sempre trabalhou na área têxtil. “Fui designer, trabalhei como modelista, porque o módulo complementa o desenho”, explica. E houve um tempo em que no trabalho fazia fardas e em casa “ia fazendo vestidos de cerimónia”, para galas, acompanhantes, mães de noivas e crianças.

A mulher que não se queria casar tinha, afinal, tudo planeado. “Não deixei nada ao acaso, nem deleguei em ninguém. Eu sabia o que queria, tanto ao nível da cerimónia, como das meninas das alianças, os acompanhantes, tudo”. Só o seu vestido de noiva teve de deixar noutras mãos. “Não é fácil provarmos um vestido de noiva em nós próprias. Não é bem a mesma coisa. Portanto, isso tive de escolher um vestido que gostasse. Mas eu sou muito prática”, diz à NiA.

“Tive uma noiva que se queria casar de cor de rosa”

É no Casal de São Brás, freguesia da Mina de Água, onde mora desde que se casou, que também tem o seu atelier. E Helga sabe que os tempos que se avizinham são de aumento exponencial de trabalho. “Quem faz vestidos de noiva sabe que isto funciona por época. A época alta dos casamentos é entre maio e setembro, outubro. Depois, as coisas acalmam”, explica.

À sua espera, tem já “cerca de 20 encomendas” e todas “têm a sua particularidade”. “Não faço dois vestidos iguais”, assegura. A empresária explica que tem sempre uma primeira reunião com a cliente “para perceber os seus gostos, os seus desejos e aquilo em que está a pensar”. “Há noivas que me chegam com ideias tiradas do Pinterest e me dizem ‘olhe, quero que me faça isto’. Digo-lhes sempre que não estou ali para copiar nada, tenho sempre de acrescentar qualquer coisa e acabo por propor sempre alguma alternativa, dentro do género que faz sentido à noiva”.

Pedidos estranhos é coisa que não costuma ter, embora, advirta, “isso é tudo muito relativo”. “Tive uma noiva que me pediu um vestido cor-de-rosa, porque gostava muito da cor e sonhava casar-se de cor-de-rosa. E casou-se, porque eu fiz-lhe um vestido cor-de-rosa”, diz com um sorriso.

Helga Campos explica que o preço dos vestidos varia muito e depende do tecido, do corte, dos acessórios e do trabalho que dá. Mas não foge à pergunta da New in Amadora. “Uma coisa muito simples pode custar cerca de 300€ e às vezes tenho noivas que chegam ao atelier e dizem que só têm aquele orçamento”, afirma. Os vestidos podem ir, em média, até aos 1800€, mas “o que encarece muito é pedraria, e aí se for um vestido mais elaborado, com muitos brilhos, pedras, pode chegar aos 2200 ou mais”.

Seja mais caro ou mais barato, “é tudo feito com o mesmo empenhamento, com o mesmo carinho”. “Gosto mesmo de saber que estou a contribuir para o sonho de uma mulher, para o dia mais importante da sua vida”.

Carregue na galeria e veja alguns vestidos de noiva feitos por Helga Campos.

ver galeria

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Vasco Lima Couto 8 B
    2700-834 Amadora
  • HORÁRIO
  • De segunda a sexta-feira, das 10h às 13h e das 15h às 19h
  • Sábado, das 10h30 às 13h e das 15h às 18h
  • Encerra ao domingo

MAIS HISTÓRIAS DA AMADORA

AGENDA