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Mané: o jogador de futebol que virou designer de roupa. Agora, tem uma loja na Amadora

Uma lesão afastou-o dos relvados. Aos 25 anos, tem orgulho no que está a construir e espera ser uma influência para outros jovens.
Na Guiné teve uma vida difícil. Aos 16 anos veio sozinho para Portugal.

É impossível não perceber que o os olhos brilham e o sorriso abre por completo quando lhe perguntamos se tem orgulho no percurso feito. “Tenho, tenho muito”, admite sem pestanejar. O caso não é para menos. Aos 25 anos, o guineense Iaia Mané Banora, que teve uma infância dura em África, sem saber se havia comida ao jantar, conseguiu abrir a sua primeira loja de roupa na Amadora. E não é uma roupa qualquer: “Tudo o que aqui vendo é desenhado por mim”.

Mané — é assim que gosta de ser tratado para evitar confusões com o nome — assume-se como “um empreendedor cheio de sonhos” e quer ser “uma boa influência para que outros jovens” não desistam dos seus.

Mesmo que às vezes seja difícil. “Triunfar para um guineense que passou pelo que eu passei é muito mais difícil do que para alguém que nasceu num país europeu”, sublinha à New in Amadora. E prossegue: “Quando sais de uma realidade assim, tão dura, o teu destino já está traçado. Tens de lutar muito para fintar esse destino”.

O empresário, que abriu em dezembro a Bami Studios, sustenta que “teria sido fácil” perder-se no caminho. E explica porquê. “Um puto pobre da Guiné, que cresceu no meio das dificuldades e que depois conhece um mundo totalmente diferente. Assisti a muita coisa, mas eu felizmente nunca caí nessas tentações”.

O sonho do futebol e a lesão de Mané

A infância foi dura. “Muito dura”, reforça, mas sem culpar os pais. “Eles tentaram sempre. Deram o seu melhor, que foi educar os seis filhos. Às vezes, havia comida, outras vezes, não sabíamos se jantávamos”

O futebol sempre foi um sonho de Mané. Aos 16 anos veio sozinho para Portugal. Na mala, a esperança de triunfar dentro das quatro linhas. Ainda jogou nos jovens do Nacional da Madeira. Era extremo esquerdo, mas uma lesão interrompeu um futuro promissor.

“Vim para Lisboa, ainda tentei jogar no Oeiras, mas conseguia treinar um dia, e depois parava no dia seguinte. Percebi que o futebol tinha acabado para mim”, recorda.

Aos 18 anos, foi para Londres. “Precisava de esquecer o futebol, de mudar de vida de fazer outras coisas”. Voltou a ir sozinho. “Lá só conhecia uma pessoa, que era o meu tio, que me recebeu alguns meses e que me ajudou a orientar-me. Depois, desenrasquei-me sozinho”.

Trabalhou nas entregas, fez limpezas num armazém. “Sentia que era pouco para mim, que podia fazer mais e que, mesmo em Londres, tinha de fazer mais para mudar a minha vida”.

Como sempre foi empreendedor, criou a sua loja de roupa online. “Só funcionava em Inglaterra, onde vivi cinco anos. De vez em quando, vinha cá e trazia umas encomendas”. Até que decidiu abrir a sua primeira loja física da Bami, na rua Conselheiro Pequito, na freguesia da Mina de Água, Amadora.

“Vendemos roupa masculina: calças, camisas, calções, fatos de treino, sapatos. Sou eu que desenho tudo. Sou designer. Tudo o que está aqui na loja fui eu que desenhei e as pessoas gostam”, conta à New in Amadora.

O primeiro desenho.

Desenhados os modelos, procura as fábricas e os países ideais com uma melhor relação qualidade-preço. “Por exemplo, Portugal trabalha bem o algodão, por isso mando fazer aqui, quando é algodão. Mas quando é ganga tenho de procurar outro sítio”.

Mané decidiu criar a própria marca de roupa porque sentia que não havia peças que o representassem. “Tanto que tive de mandar vir roupa dos Estados Unidos. E demorou três ou quatro semanas a chegar a Londres e foi aí que pensei que, se calhar, era uma boa área de negócio. Fui pesquisando, mergulhando no mercado português e percebendo que tinha potencial”, explica.

Não se enganou, porque as vendas estão a correr muito bem, ao fim de cinco meses de portas abertas. “Já tenho clientes fixos e as pessoas já se habituaram a vir à loja. Há gente que paga antecipadamente quando mostro os desenhos da nova coleção — e depois ficam à espera que chegue”, afirma, garantindo que a roupa que desenha e vende “é urbana, tem um estilo confortável que pode ser usada por todo o tipo de homens, africanos ou europeus”.

As peças começam nos 30€ (camisas) e chegam aos 75€ (calças), mas “há preços para todos os gostos nesse intervalo”.

Aos 25 anos, Mané tem ainda muitos sonhos. Vive com a companheira e a filha e quer ser um exemplo de resiliência e superação. “Sei que estou no bom caminho, mas ainda não cheguei onde quero”, diz. “Quero ter mais lojas em Portugal, em Londres, em África, expandir a marca e mostrar que nunca devemos desacreditar dos nossos sonhos”.

Carregue na galeria para ver alguns exemplos de peças do catálogo da Bami.

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