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Ricky: o barbeiro-dançarino que gere um negócio com 55 anos de história

Começou a dançar aos 10 anos e a cortar cabelo aos 14. Aos 20 trocou a Póvoa de Varzim por Lisboa e assumiu a gerência da casa.
Ricky começou a cortar a cabelo aos 14 anos.

Parece uma história de ficção, mas é bem real. Ricky nunca quis ser barbeiro, mas gere uma casa que acaba de completar 55 anos de vida. A Ricky Barber Shop é uma barbearia de homens, mas há mulheres que gostam tanto do serviço, que, às vezes, também vão lá. Ricky não é o verdadeiro nome do protagonista desta história, que aos 14 anos começou a cortar cabelo e aos 20 trocou a Póvoa de Varzim por Lisboa.

Diamantino começou a dançar aos 10 anos. Não, leitor, não há equívoco. Diamantino e Ricky são a mesma pessoa e agora, sim, a charada começa a resolver-se. “Diamantino não era nome para a dança”, conta à New in Amadora, com uma risada. Acabaram por aconselhá-lo a experimentar Ricky. Usou, gostou e ficou. “Hoje já quase não respondo quando me chamam pelo verdadeiro nome”, diz Diamantino Andrade, 45 anos. “Na Amadora todos me conhecem por Ricky, é o meu nome de guerra devido à dança”.

Em miúdo, dançava todos os estilos, não tinha preferências. “Queria mexer o corpo, dar asas à imaginação”, justifica, mas os tempos eram outros, e a dança não era ainda coisa para rapazes, sobretudo no Norte. Aos 14 anos teve de se fazer à vida. Cortar cabelo foi o que lhe apareceu, havia muita falta de mão de obra. “Tirei um curso lá na Póvoa, numa escola profissional conhecida, mas não gostei muito, porque era cabelo de senhoras e preferia cortar cabelo de homens. Depois do curso, comecei a cortar num salão lá na terra que ainda hoje está aberto”, recorda.

Aos 18 anos, foi para a Carregueira, fazer o Serviço Militar Obrigatório, e, logo a seguir, para o Colégio Militar, onde ficou dois anos como barbeiro. “Foram tempos fantásticos, com boa camaradagem, bons amigos, que ainda hoje conservo”.

António Zagalo e Francisco Ramires Branco cruzaram-se com Ricky nessa altura. Ambos alentejanos, barbeiros de profissão e donos de uma barbearia na Amadora, convidaram-no para trabalhar com eles e, logo a seguir, assumir a gerência da casa. “Tinha 20 anos, era um puto. Já tinha alguma experiência, mas francamente, não sabia se tinha unhas para tocar aquela guitarra”. Teve. E, passados estes anos, não esquece os seus dois mentores — um deles, António Zagalo, morreu em 2022: “Foram duas pessoas incríveis na minha caminhada. Apostaram em mim, ensinaram-me muito. Foram muito meus amigos”.

Ricky entre os seus dois ‘mentores’, na Amadora.

Ricky aceitou o convite e ficou à frente da barbearia, procurando dar-lhe um novo rumo, outra dimensão, aumentando o espaço em 2017, modernizando os serviços, e mudando a sua apresentação.

Barbeiro feliz

O barbeiro não se pode queixar do negócio. “Felizmente, tem corrido muito bem. Somos uma barbearia muito conhecida na Amadora, que comemorou 55 anos em fevereiro passado. Nenhuma casa comemora 55 anos de vida com esta vitalidade se não for boa, se não prestar um bom serviço aos clientes”, assegura à NiA.

Já teve 20 empregados a trabalhar para si. Hoje são cinco e “chegam perfeitamente”. “Prefiro ter menos, mas saber que são competentes e pessoas em quem posso confiar”, sublinha, lamentando que não haja “um código de ética num mercado tão competitivo como este, em que qualquer profissional pode sair de uma barbearia onde trabalha hoje para abrir amanhã uma casa igual ao lado”.

“Já viu quantos barbeiros e cabeleireiros há na Amadora?”, pergunta Ricky, dizendo, porém, que todos têm o direito de existir. “Depois, far-se-á a seleção natural, através da qualidade”, assegura.

O barbeiro promete um “atendimento personalizado” com “equipamento de qualidade”, para adultos e miúdos. “Sendo um serviço premium, acredito que temos preços adequados para a realidade da Amadora”, salienta. O corte de cabelo custa 13€ e a barba 11€ — o serviço barba e cabelo fica por 22€.  

Ricky aposta num marketing digital forte, embora gostasse de ter mais tempo para se dedicar a isso. “Hoje vivemos numa época em que as redes sociais são fundamentais para atrair mais público, mas mesmo assim eu continuo a acreditar no poder do boca-a-boca.”

Não deixa, ainda assim, de piscar o olho ao público mais jovem, embora deixe claro que a casa recebe clientes de todas as idades. “Tem este ar modernaço, mas um estilo vintage. Isso tem uma razão. A Ricky Barber Shop tem clientes de três gerações. Continuo a receber cá o avô, que passou ao filho e, por sua vez, o neto também já vem cortar o cabelo. Isso é muito gratificante, porque é sinal de que estamos a fazer bem o nosso trabalho.”

Os tempos mudaram e nestes 31 anos que já leva a cortar cabelo, Ricky sabe que a moda e as tendências são hoje completamente diferentes. “Se mudaram? Mudam todas as semanas”, sorri. Antigamente, era normal os jovens chegarem a um salão com uma revista “Bravo” na mão, apontar para uma estrela pop e pedir um corte igual, — e a história não mudou assim tanto. “Em vez de ser com uma revista, é com o TikTok ou com o Pinterest”, revela. Mas, garante, “há sempre espaço para a criatividade do barbeiro”.

Se a vida de Diamantino, perdão, de Ricky, se fez a tesoura e navalha, é caso para perguntar: em que gaveta guardou a dança? “Em gaveta nenhuma”, responde a sorrir. Perante a insistência, nova revelação: “Continuo a dançar”.

“A dança continua a fazer parte da minha vida. E há de fazer sempre. Continuo a dar aulas de dança na Académica da Amadora, consigo conciliar com a barbearia”, explica. De dia, barbeiro, à noite, dançarino. “Felizmente, a dança tem crescido muito e na Amadora também. Temos já muitos sítios, muitas escolas de dança cá no concelho e isso é muito positivo”, conclui.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Avenida do Brasil, 22 H
    2700-133 Amadora
  • HORÁRIO
  • De segunda a sexta-feira, das 9h às 13h e das 14h30 às 20h
  • Sábado, das 9h às 14h
  • Encerra ao domingo

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