Em 2023, quando Bárbara Costa sentiu os primeiros sinais de burnout, não deixou o problema arrastar-se. Enquanto psicóloga, já tinha percebido que algo estava acontecer bem antes do diagnóstico, que a levou a perceber que algo precisava de mudar. “Tive que despertar”, recorda à NiT. Naquela altura, dividia o seu tempo entre o trabalho na direção técnica de numa instituição particular de solidariedade social (IPSS), aproveitando todas as pausas, o horário pós-laboral e os fins de semana para se dedicar às exigências da marca de roupa para mulheres que tinha criado, cinco anos antes.
Apesar dos obstáculos, e de várias pausas pelo meio, a antiga psicóloga, atualmente com 32 anos, nunca desistiu do projeto. Desde que lançou a t-sHEART, em 2018, a etiqueta continuou a evoluir até que, no final de 2024, Bárbara tomou a decisão de se dedicar em exclusivo a este negócio.
A marca nasceu do desejo de criar camisolas inspiracionais e motivacionais, daí o nome ser a junção entre T-shirt e “heart” (coração, em inglês). Atualmente, além destas propostas, passou a incluir blusas, vestidos, casacos e até acessórios, mantendo a vontade de reforçar a autoestima de quem usa os artigos.
As afirmações, escolhidas e escritas pela própria Bárbara, são mais tarde bordadas de forma elegante em cada desenho. Os bordados encontram-se sempre do lado esquerdo de cada peça, do lado do nosso coração, “para que o sintam verdadeiramente”, revela a fundadora.
Como tudo começou
A ideia surgiu em 2018, quando a fundadora concluiu o curso, antes de fazer o estágio para a Ordem dos Psicólogos. “Sempre foram as T-shirts que me fizeram percorrer lojas à procura do modelo ideal, porque não gostava das opções básicas e lisas”, refere.
Desde o início, contou com o apoio do namorado, que trabalha em estamparia desde os 18 anos. Muitas vezes, o casal apontava falhas ou detalhes que não gostavam na oferta disponível e, sem fazer ideia dos desafios que se seguiam, Bárbara decidiu arriscar e fundar a própria marca.
Nesse ano, criou a coleção de estreia com o primeiro ordenado que recebeu, “pouco mais que o salário mínimo”, recorda, destacando as dificuldades trazidas pelas condições de produção nacionais. “Como tinha acabado de sair de casa dos meus pais, havia toda uma nova leva de responsabilidades e precisei parar.”
Em 2019, ainda consegue lançar uma segunda linha, após concluir o estágio e enveredar pela área administrativa, numa IPSS. Trabalhava entre 12 a 13 horas por dia, mas todos os momentos eram importantes para o crescimento da t-sHEART, que começou a evoluir para outras peças mais sofisticadas e elegantes, como blusas e vestidos.
“Apaixonei-me pela qualidade das malhas em algodão, tão diferentes da fast-fashion. Sentia necessidade de acompanhar o meu estilo pessoal, a minha evolução profissional e o meu amadurecimento. Já não sentia necessidade de usar apenas T-shirts.”
Após uma pandemia e algumas mudanças de emprego, Bárbara chegou, com 28 anos, à direção técnica da empresa, gerindo mais de 50 colaboradores, ao mesmo tempo que se continuava a dedicar a esta paixão. Como a marca continuou a crescer, decidiu despedir-se e dar consultas de psicologia online.
“Embora me dedicasse à t-sHEART em part-time, ocupava muitas horas do meu dia. Após sair do trabalho, ia o mais rápido possível para as confeções. Geria os meus dias de férias para conseguir estar com os fornecedores e testar protótipos e, durante a semana, pedia para que se reunissem comigo após as 20 horas.”
O processo manteve-se até ao momento do burnout, altura em que Bárbara percebeu que, para poder cuidar melhor de si, precisava tomar uma decisão. Começou a dedicar-se em exclusivo à marca e alavancou um projeto “onde cada peça é pensada, desenhada e criada com muito amor”, salienta.
Os modelos “elegantes e sofisticados” a pensar nas mulheres
Atualmente, a t-sHEART conta com lançamentos recorrentes. “O que notámos na nossa comunidade é que, com tanta concorrência na área da moda, necessitamos de apresentar novidades”, explica. Além das coleções sazonais, há sempre novos artigos a entrar no catálogo.
A maioria das peças são desenhadas a pensar nas várias fases de vida das mulheres. Há, por exemplo, vestidos que podem ser usados de várias formas para poderem ser comprados por mulheres grávidas ou em fase de amamentação.
O objetivo, refere, é elevar a autoestima das clientes. “O que percebi quando dava consultas é que nos sentimos muito diferentes num dia em que nos arranjamos e noutro em que ficamos de pijama”.
Bárbara revela também que a marca vai alargar a oferta à roupa de cerimónia, continuando a trabalhar os tecidos “elegantes e sofisticados” que a encantaram ao longo dos anos.
“Quando comecei a criar estas peças para mulheres, foi desafiante perceber como podia enquadrar a parte da psicologia. A parte da estamparia já não fazia sentido”, acrescenta. “Optei pela parte dos bordados no lado esquerdo do peito para poderem ser adaptadas a todos os lados do dia a dia.”
A missão continua a ser motivar as clientes e, segundo a fundadora, tem sido bem sucedida. “O que nos incentiva é receber feedback de mulheres com perdas gestacionais a vestir uma peça que diz ‘esperança’ e que ganham essa esperança. Já tivemos clientes que perderam alguém e que se sentem aconchegadas” continua.
Os testemunhos continuam, desde pessoas que passaram no exame de condução com o bordado “you got this” ou que estavam no hospital, mas de olhos fixados na afirmação “believe in you”. “Sinto que estou a ajudar pessoas.”
Em 2025, o principal objetivo de Bárbara é criar o primeiro evento da marca e juntar as t-sHEART girls, como chama à comunidade de clientes, para um lançamento em primeira mão.
“Ainda há muito caminho a percorrer”, conclui, e a fundadora não desiste de continuar a aliar a moda à psicologia, aprofundando ainda mais esta relação. Um dos planos passa por organizar palestras relacionadas com a área em se formou.
Todas as propostas estão disponíveis no site da marca. Há peças entre os 21,95€ e os 279€.