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Todos conhecem o senhor Cardona. A sua retrosaria é um monumento da Amadora

Fundada em 1937, a Retrosaria Cardona vai na segunda geração, mas a terceira já está assegurada.
José Alberto Cardona nasceu na retrosaria. Literalmente.

Primeiro, olha-nos desconfiado. “Já contei a minha história numa entrevista. Vou ter de repetir tudo outra vez?”, pergunta com cara de poucos amigos. Explicamos-lhe que a entrevista que deu — e que está exposta em fotografia nas paredes da Retrosaria Cardona — foi à revista da Câmara Municipal da Amadora há mais de dois anos, que esta é diferente. “Como diferente? A minha vida é mesma”.

Faz sentido, mas à medida que vamos conversando, José Alberto Cardona, 75 anos, o proprietário da retrosaria com o nome da família, fundada em novembro de 1937, vai-se soltando e a cara fechada do início dá lugar lugar a um sorriso simpático.

A visita à Retrosaria Cardona, situada na Rua Gil Vicente, na Venteira, era obrigatória. Eram muitos os leitores que nos aconselhavam a visita a este “autêntico monumento da Amadora”. E, de facto, já não são muitos os negócios familiares com 87 anos de vida.

“Isso só é possível porque servimos bem os clientes. O melhor desta casa são os clientes, que vêm cá fazer as compras. Compram, pagam e voltam, o que é um bom sinal”, diz à New in Amadora.

O negócio começou com o pai, Carlos Cerqueira Cardona, que abriu a loja pouco tempo depois de se ter mudado, com a mulher, de Lisboa para a Amadora. “Isto era uma vivenda e, como acontecia muitas vezes antigamente, a parte da frente era a loja e lá para trás, os aposentos. Connosco era assim, por isso costumo dizer na brincadeira que nasci aqui, sou um filho da retrosaria”.

Literalmente, porque o pai de Alberto não quis que ele nascesse na maternidade. A parteira vivia perto, foi chamada a casa, e foi ali mesmo que o atual proprietário conheceu a luz do dia. “E foi por aqui que foi crescendo. Na altura não havia infantários. Há muitos clientes que me conheceram em bebé e menino e que ainda hoje vêm cá”.

Profissionalmente, porém, José Alberto começou a trabalhar com o pai desde que saiu da tropa. “Nós tínhamos uma secção de revenda e eu andava nas lojas da Amadora a vender”, recorda.

Com a morte do progenitor, em 1993, José Alberto tomou conta da loja. “Sou o último de três filhos, o mais novo, fui-me habituando a isto”. Aos 75 anos, José Alberto Cardona já prepara a sucessão e está contente por saber que o filho vai seguir com o negócio. “Claro que me agrada. Fico orgulhoso de pensar que ele vai ser a terceira geração da retrosaria. Tem 31 anos, está a treinar-se. E isso dá-me um grande descanso, até porque eu já podia estar em casa, mas faz-bem à cabeça vir para aqui e continuar a trabalhar. Está aqui a nossa vida”.

Nas paredes da Retrosaria Cardona não há uma nesga de parede vazia. À esquerda, assim que se entra, por detrás de um balcão disposto em L, a parede está coberta de botões. São centenas, talvez milhares, de todas as cores e tamanhos. “Temos mais de dez mil referências de botões aqui na loja: é o tamanho, é a cor, são os modelos”, revela, acrescentando que “o segredo do sucesso da retrosaria é ter muita variedade, porque isso aumenta a capacidade de escolha dos clientes”.

“Temos aqui um catálogo com a coleção de 460 cores. Eram 460, porque agora já são mais. Temos de ter todas as cores existentes no mercado, porque se não vem cá um cliente à loja e vem à procura precisamente da cor que não há”, brinca.

As grandes superfícies, assegura, não fazem concorrência à Cardona. “As que existem não têm a mesma variedade”, diz à New in Amadora. “E não há muitas. Já houve centros comerciais com retrosarias, mas chegaram à conclusão que não dava grande negócio. Os clientes que precisam de botões, agulhas e lãs não vão a um centro comercial, vão a uma loja ao pé de casa e, se gostam do atendimento, ficam fidelizados”.

A fidelização é uma palavra cara para José Alberto. “Houve um dia que chegámos a juntar aqui quatro gerações: a bisavó, a filha, a neta e o bisneto. Vieram todos juntas à loja, veio o quarteto familiar. É um orgulho para mim, claro”, admite.

Mas todos os dias entram por aquela porta novos clientes. “E clientes novos, também, é muito engraçado. Na sua maioria compram linhas, fechos e botões. Às vezes, vêm com dúvidas e nós aconselhamos, dizemos o que é indicado para determinada coisa. E isso só uma retrosaria de bairro pode fazer”, conclui.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Gil Vicente 22-C, Amadora, Portugal
    2700-422 Amadora
  • HORÁRIO
  • De segunda a quinta-feira, das 10h às 13h e das 14h30 às 19h
  • Sexta-feira, das 10h às 13h00
  • Encerra ao sábado e domingo.

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