cultura

100 Desculpas. Jovens da Amadora lançam EP de originais em sala mítica de Lisboa

Alunos da Desafios estão em contagem decrescente para um concerto muito especial. Têm entre 18 e 21 anos e cantam em português.
O sonho continua.

“Sim, somos umas almas velhas”, diz na brincadeira Henrique Oliveira, um dos seis jovens da Amadora que compõem a banda 100 Desculpas, nascida na Academia de música Desafios, e que apresenta no dia 23 o seu primeiro EP de originais – todos em português — na discoteca Tokyo, no Cais do Sodré, em Lisboa.

Henrique, 19 anos, é o autor da maior parte das letras e é baixista do grupo, que nasceu “há cerca de três anos”, da reunião com Inês Mourisco, Artur Matias, Diogo Bastos, Vasco Cruz e Afonso Pinto, que têm comum o facto de serem todos da Amadora e estarem na universidade. “Todos eles começaram a estudar música connosco aqui na Desafios e fui eu que os juntei, porque vi neles características que, juntas, podiam resultar numa banda”, explica à New in Amadora a professora de música e diretora da escola, Vanessa Ricardo, 42 anos.

“Somos seis, temos todos a nossa vida universitária e, portanto, nem sempre é fácil juntarmo-nos. No início de cada semestre, temos de encontrar um horário que seja compatível com todos. Pelo menos, ensaiamos uma vez por semana, mas nos últimos tempos, nesta contagem decrescente para o dia 23, temos ensaiado mais”, conta Henrique, sem esconder que “à medida que vai chegando a data, há um nervoso miudinho maior”.

A banda nasceu da vontade e “olho clínico” de Vanessa Ricardo, a diretora da academia

Nos concertos anteriores que foram dando — a escola motiva essa aprendizagem em contexto real e com uma forte componente prática e é a Desafios que organiza os concertos e que escolhe os palcos onde os alunos tocam —, Henrique e os colegas foram “perdendo o nervosismo”, mas agora, confessa, “vai ser diferente”. “É uma coisa importante no sítio mais fixe onde já tocámos, há uma responsabilidade maior”.

Aluno do primeiro ano de Marketing e Publicidade da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Henrique afirma que tem conseguido gerir os dois patamares da sua vida, embora não esconda que é de música que gosta. “Não é fácil viver da música em Portugal, portanto, convém ter um plano B”, reconhece.

“Todos nós estamos entusiasmadíssimos. Vemos isto como uma grande oportunidade, porque ao longo do tempo fomos ganhando uma grande paixão por este projeto e, cada vez mais, é uma coisa que vemos com futuro”, diz à NiA o baixista, que reconhece que ter a oportunidade de apresentar os originais da banda num espaço como o Tokyo “é quase um sonho”.

Amizade e cumplicidade na banda

A 100 Desculpas ganhou forma no âmbito da disciplina de bandas, que integra o currículo dos jovens na academia. “Comecei por tocar guitarra clássica em 2017 na Desafios, mas a diretora sabia que eu tinha um baixo em casa e, nos 10 anos da escola, convidou-me para fazer uma espécie de atuação em banda”, recorda.

Vanessa confirma: “O nosso objetivo é criar projetos musicais, é dar aos nossos alunos condições para virem a trabalhar no mercado. Fomos nós que vimos potencialidades nestes seis elementos para formarem uma banda. Eles foram-se conhecendo, até porque nem eram amigos, foram ganhando cumplicidade, começaram a cantar covers de rock português”, explica a docente.

Henrique revela que gostou da experiência e que o tempo e o trabalho feito na escola ajudaram a consolidar o projeto. “Com o tempo fomo-nos integrando mais, gostando mais uns dos outros e percebendo que queríamos mesmo fazer isto. Para ter uma banda, é preciso que haja cumplicidade e amizade entre os seus membros e a nossa foi crescendo na exata medida da nossa aprendizagem”, conta o músico à New in Amadora.

 
 
 
 
 
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O autor da maior parte das letras da banda nunca tinha escrito música. “Os originais começaram por ser poemas que eu tinha de escrever para as aulas de Português”, recorda com um sorriso.

Cantar na língua materna é uma imagem de marca da banda. “Preferimos sempre o português ao inglês. Somos umas almas velhas, nós sabemos. Atualmente, é raro malta da nossa idade escrever e cantar em português, mas nós preferimos”, conta o jovem. Vanessa Ricardo acrescenta: “Este trabalho dos 100 Desculpas, bem como o de outras bandas que temos na Desafios, não acontece por acaso. É o reflexo do empenhamento dos professores e meu em particular. Eles chegam com as letras, às vezes com as melodias, mas depois é preciso todo o trabalho de arranjos, que acaba por ser feito por mim, na aula que eles têm semanalmente, desde a estrutra da música, as melodias, os arranjos para bateria, para baixo, guitarras”, sublinha, concluindo que o seu trabalho é de “amiga e professora”, mas também de “diretora musical, produtora musical”.

Nesta caminhada, Henrique diz que “o apoio dos pais tem sido fundamental”, até para ir a estúdio gravar os originais. “Em estúdio aprende-se muito. E queremos repetir”, avisa.

Os elogios são extensíveis também à Academia onde aprendem música. “A Desafios é uma família. São super atenciosos, estão sempre a puxar por nós e têm-nos ensinado muito”.

Uma escola na Amadora dedicada à música moderna

Vanessa Ricardo, 42 anos, é a diretora da Desafios e olha com emoção para o crescimento dos seus “meninos”. Sabe tudo sobre eles. O que gostam, como são, os pontos fortes de cada um. “É uma espécie de mãezinha deles”, dizemos-lhe na brincadeira. “Prefiro ser uma irmã mais velha”, responde com graça.

A Desafios tem 13 anos, embora “nos últimos três, quatro anos, tenha apostado mais na música moderna, nos estilos pop, rock, blues, jazz e metal”, explica a professora.

“Antigamente, quando começámos, também tínhamos música clássica, até porque eu também tenho formação clássica. Mas a minha praia é mais jazz, blues, bossa nova há alguns anos. E como a vertente prática da nossa escola é muito forte, no sentido em que o nosso objetivo é formar bandas, optámos por este modelo de música moderna”, diz à New in Amadora.

A aposta da Desafios “tem muito a ver com a cultura urbana de um concelho como a Amadora”, que é muito heterogéneo. “Além de que para quem procura especificamente música clássica, o que não falta em Lisboa e na Amadora são escolas que ensinam essas áreas”.

A academia chegou a ter 250 alunos, mas a pandemia em 2020, e a crise financeira que se seguiu, “foram uma razia”. Neste momento, frequentam a escola cerca de uma centena de jovens alunos. “Infelizmente, o nosso País deixa a cultura para o final, é visto sempre como uma coisa supérflua”, lamenta.

“Um pai e uma mãe são capazes de gastar 200 euros em explicações de matemática, mas não são capazes de gastar 50 ou 60 euros em aulas de música, que são cultura e que está mais do que provado que transportam benefícios para o crescimento dos jovens, da sua vida escolar e na sua relação com os outros”, sublinha Vanessa Ricardo.

Guitarra clássica, guitarra elétrica, baixo, bateria, piano e canto são algumas das disciplinas lecionadas na escola, “de acordo com os currículos da RockSchool, um programa de certificação internacional, em música moderna, com oito graus de ensino, que depois dá acesso ao ensino superior em Inglaterra”.

“Infelizmente, o nosso País está muito atrasado no ensino da música. O único estilo de música moderna existente nas faculdades portuguesas é o jazz”, constata.

A formação na Desafios, diz Vanessa, é “muito prática”. “Estamos sempre a motivar os miúdos a criarem bandas e a poderem tocar em locais ao vivo, porque isso lhes dá experiência e capacidade de mostrarem as suas potencialidades. Mas também isso não acontece por acaso: é a escola que providencia o Tokyo ou outros palcos para os alunos tocarem, não são eles que procuram”.

“Isto é um orgulho para eles, mas também é para nós. Vê-los crescer, tornarem-se mais responsáveis, ganharem gosto por isto e poderem apresentar os seus originais é também um sinal de que estamos todos a fazer bem o nosso trabalho”, conclui a responsável da academia.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Praça D. Maria II, 5C, Loja A e B
    2720-192 Amadora
  • HORÁRIO
  • De segunda a sexta-feira, das 15h às 20h
  • Encerrado ao sábado e domingo

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