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À falta de um hino, Amadora tem dois. Mas só um é oficial. O outro foi feito por “carolice”

“Cidade menina, Cidade mulher” era o ponto de partida para esta reportagem. Mas rapidamente se percebeu que havia outro hino oficial, que valoriza a multiculturalidade.

“Menina de dez anos / de tranças e lacinhos / Cidade da Amadora, Cidade linda menina. Cansada de brinquedos / já gastos velhinhos / quer ter um fato novo /, quer tornar-se mulher.” Assim começava o hino da Amadora, escrito e composto em 1989, por Altino M. Cardoso, natural do Peso da Régua, licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Coimbra, e um apaixonado pelo eixo Sintra-Amadora, cidade onde chegou a ser professor. “Tenho uma vida cheia de aventuras”, conta à NiA.

Trinta anos depois, a menina tornou-se mulher, e Altino Cardoso achou por bem atualizar a letra do hino. “Não, ninguém me pediu nada. Tudo isto é carolice”, assegura. “Menina e agora Mãe / com amor e carinhos / cidade da Amadora / continua menina / cresceu para ser alguém / seguiu bons caminhos / teve um ideal na vida / ser feliz e ser mãe”.

Altino M. Cardoso, autor de livros, professor, colaborador da imprensa regional, foi diretor do mensário “Amadora-Sintra”, que deixou de ser publicado em 2003, mas continua a ter existência jurídica, como “armazém intelectual das obras do autor”.

“Que hino é esse? Não conhecemos”

O entusiasmo de Altino, que se diz também poeta, esbarra no desconhecimento generalizado da(s) sua(s) ode(s) à Amadora. “Não conhecemos esse hino. Quem o escreveu?”, responde fonte oficial da autarquia às questões colocadas pela NiA. Procuravamos respostas, mas devolveram-nos perguntas. Nas últimas duas semanas, ouvimos opiniões, falámos com músicos e maestros da Amadora e a resposta foi sempre a mesma: “Nunca ouvi falar. Aliás, nem sabia da sua existência”.

A Câmara confirma a versão oficial. “A Amadora só tem um hino: o que foi criado para celebrar o 40.º aniversário do município”, afirma fonte do executivo. A obra “Nós, Amadora” foi encomendada ao compositor e maestro Pedro Teixeira da Silva, acrescentam. “Este é o verdadeiro hino e foi criado em 2015, a propósito dos 40 anos do concelho.

O hino “Nós Amadora” estreou-se a 11 de setembro de 2019, no decorrer de um mega concerto, com mais de 100 músicos em palco, afirma o maestro, que procurou fazer uma peça multicultural, com a presença da Orquestra Orbi, Orquestra Geração da Amadora, Sociedade Filarmónica Comércio e Indústria da Amadora, o Coro Emotion Voices, e o grupo coral do Hospital Dr. Fernando da Fonseca.

“Na interpretação contámos com 135 artistas, num espetáculo chamado ‘O Amanhecer da Esperança’”. “Criei um projeto para reunir em palco várias sinergias e formas de expressão artística, com uma banda filarmónica, e solistas, do melhor que há em Portugal e internacionalmente.”

 

Altino Cardoso prefere não ser deselegante e escusa-se a fazer comentários à letra e composição artística do hino. “Não quero ser deselegante, mas parece-me um hino multicultural, para agradar a todas as raças”, comenta à NiA.

Pedro Teixeira da Silva recorda ter “criado uma cantata para quatro postos vocais, uma soprano, uma mezzosoprano, um tenor e um barítono, um coro e uma orquestra sinfónica”, explica.

“A obra ‘Nós Amadora’ nasce de um muito interessante desafio em convidar as Batucadeiras Finka Pé a juntarem-se ao projeto. Desafio, esse, que me permitiu abrir novamente as janelas da criatividade, de modo a ajustar as batucadeiras e a música clássica, numa formação de coro e orquestra”, sublinha.

Segundo o maestro, “a letra é minimalista e pensada exatamente nesse sentido, ou seja, estando a Amadora habituada a uma grande diversidade cultural, a minha ideia era que a letra e os ritmos fossem facilmente absorvidos pelas pessoas.”

Inspiração em Ravel

O “Nós Amadora” começa precisamente com as batucadeiras, que entram como solistas, “e, tal como fez o mestre francês Maurice Ravel, nos seus famosos boleros, assistimos a um crescendo de intensidade”, afirma, acrescentando que a interpretação reúne um ensemble de 135 músicos em palco”, sublinha Pedro Teixeira da Silva, diretor artístico da Orquestra Orbis e coordenador do serviço educativo do Teatro Nacional de São Carlos.

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