Amadora acolhe pela primeira vez Festival de Cinema, com histórias de amor, resistência e memória

O Cineteatro D. João V, na Damaia, e os Recreios da Amadora vão integrar, entre 8 e 16 de novembro, a programação da 19.ª edição do LEFFEST — Lisbon Film Festival. No total, as duas salas vão receber 15 sessões de cinema de nove secções, desde a Seleção Oficial em competição, às homenagens a Miranda Richardson e a Wagner Moura. O programa conta ainda com um espetáculo performativo, que promete tratar temas como o exílio e a identidade, através do movimento corporal.

Desde as suas primeiras edições, o LEFFEST acolheu figuras importantes como Francis F. Coppola, David Lynch, Bernardo Bertolucci, Agnès Varda, Emir Kusturika, Lucrecia Martel, James Gray, Wim Wenders, David Cronenberg, Nan Goldin, Pedro Almodóvar, Wes Anderson, Jim Jarmusch, Nanni Moretti, Werner Schroeter, Léos Carax, Abel Ferrara, Piotr Anderszewski, Laurie Anderson, David Byrne, Teresa Villaverde, Isabelle Huppert, Don DeLillo, John Berger, Peter Handke, Wagner Moura, Maria João Pires, Fanny Ardant, Robert Pattinson, Monica Bellucci, Catherine Deneuve, John Malkovich, Alice Rohrwacher, Willem Dafoe, entre muitos outros, ou seja, uma constelação de estrelas.

A competição oficial do LEFFEST reúne 11 dos filmes mais marcantes de 2025, obras distinguidas nos principais festivais internacionais, que chegam agora a Portugal para disputar o Grande Prémio NOS. “Histórias de pertença, amor, resistência e memória entrelaçam-se num retrato vivo e inquieto do nosso tempo”, explica a organização.

A Seleção Oficial é também um mapa sensível do cinema contemporâneo. “Onze filmes, onze vozes singulares, percorrem geografias, formas e linguagens para falar da busca de pertença, das feridas íntimas, da memória partilhada e do que ainda nos une num mundo em fragmentação. Um destes títulos será distinguido com o Grande Prémio NOS.”

Quatro destas obras habitam um mesmo território emocional, o desejo de encontrar um lugar no mundo. Segundo a sinopse, em “Entroncamento“, de Pedro Cabeleira, apresentado na secção ACID do Festival de Cannes 2025, “Laura procura recomeçar numa terra de passagem. À deriva entre biscates e pequenos delitos, cruza-se com uma juventude desencantada e sonhadora, num retrato cru e solidário daqueles que vivem no limiar entre a sobrevivência e a esperança”.

De Portugal ao Irão, “In the Land of Brothers”, de Raha Amirfazli e Alireza Ghasemi, acompanha três gerações marcadas pelo exílio e pela sensação de nunca pertencerem verdadeiramente a lugar algum. Vencedor do prémio de Melhor Realização de Drama na Competição Mundial do Sundance Film Festival 2024, é um manifesto por um mundo sem fronteiras.

Em “Las Corrientes”, Milagros Mumenthaler, “acompanha Lina, que regressa a Buenos Aires após um gesto impulsivo na Suíça. A estabilidade desmorona-se e o corpo torna-se espelho de uma identidade em suspensão, num retrato sensorial sobre pertença, desejo e o peso das aparências”, lê-se na sinopse. Já “Olmo”, de Fernando Eimbcke, acompanha o verão de 1979 no Novo México. Um rapaz de 14 anos descobre que crescer significa, por vezes, reaprender a amar o lugar de onde sempre quis fugir.

Três filmes desta seleção foram distinguidos no Festival Internacional de Cinema de Veneza. “The Sun Rises on Us All”, de Cai Shangjun, é um melodrama luminoso e ferido. Dois antigos amantes reencontram-se num hospital e descobrem, entre as cicatrizes, a possibilidade de uma reconciliação tardia. Xin Zhilei recebeu a Copa Volpi de Melhor Atriz pela sua interpretação.

O cinema americano marca presença com “Blue Moon”, de Richard Linklater, “um retrato melancólico de Lorenz Hart (interpretado por Ethan Hawke) na noite em que se confronta com a passagem do tempo e a sombra da obsolescência”. Andrew Scott foi distinguido com o Urso de Prata de Melhor Interpretação Secundária no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

A estreia europeia de “Where to Land”, de Hal Hartley, encerra a seleção. “Joseph Fulton, realizador reformado, decide tornar-se jardineiro num cemitério. A família interpreta este gesto como presságio. O humor melancólico e a ternura das suas despedidas fazem desta comédia uma reflexão delicada sobre envelhecer, criar e permanecer”. A exibição integra ainda uma homenagem ao cineasta norte-americano.

Da adolescência à velhice, da resistência ao amor, da natureza à memória, estas onze obras não oferecem apenas um retrato artístico do nosso tempo. São também um espelho vivo da nossa humanidade.

A programação completa da 19.ª edição do LEFFEST pode ser consultada online. Os bilhetes já estão disponíveis para compra, com preços que variam entre os 5€ e os 8€. As bilheteiras físicas do Cineteatro D. João V e/ou Recreios da Amadora abrem duas horas antes de cada sessão.