Pode a arte contribuir para a mudança de mentalidades? E há uma visão solidária da cultura? É mesmo pelo sonho é que vamos, como escreveu o poeta Sebastião da Gama? A resposta é sempre a mesma: sim, sim, sim.
São estas as premissas com que o Teatro Aloés, fundado oficialmente em 2001 na Amadora por um conjunto de atores profissionais, realiza esta quinta-feira, dia 20 de fevereiro, a Conferência Solidariedade e Arte, nos Recreios da Amadora. “A ideia é refletir sobre o papel da arte e da solidariedade como catalisadores para a transformação social”, afirma a organização.
“Acho que a cultura pode ser um veículo privilegiado de conseguir a solidariedade, de conseguir sociedades mais justas, porque a cultura, nomeadamente o teatro, é um espelho nosso. E nós, ao vermo-nos ao espelho, conseguimos eventualmente corrigir as nossas falhas, ter a utopia de um mundo melhor e de poder construir uma coisa mais digna para o ser humano”, afirma à New in Amadora Elsa Valentim, que integra a direção do Teatro de Aloés.
A atriz profissional, que os portugueses bem conhecem da sua participação em séries e novelas portuguesas — “Anjo Selvagem”, “Doce Fugitiva” (TVI), “Golpe de Sorte”, “Sangue Oculto” (SIC) ou “Cuba Libre” ou “Crónica dos Bons Malandros” (RTP) — além do trabalho profícuo feito no cinema e no teatro, considera que a Amadora, “sendo um território multicultural, tem imensas potencialidades”. “Mas só se trabalharmos na multiculturalidade”, adverte.
“O que acontece, e isso é o grande problema, é o cada um por si. A Amadora é uma sociedade tolerante, mas cada um vive nos seus sítios. Há uns anos fizemos um espetáculo sobre a Amadora e o que mais me impressionou foi um senhor que me disse: ‘multicultural, multicultural, mas nós aqui e nós lá’”, diz à NiA.
Aprender a cultura uns dos outros
A atriz, que conhece bem o concelho, sublinha que “há ainda muito trabalho por fazer”. “Muito trabalho que todos juntos podemos fazer”, acrescenta. “Porque colocarmo-nos naquela posição do ‘nós aqui e eles la’, porque ‘nós somos os que temos direito de estar aqui’, não nos leva a lado algum”.
Elsa Valentim aponta algumas das coisas que viu em bairros da Amadora considerados difíceis. “Vi coisas fantásticas de comunidade, muito mais interessantes do que aquelas que supostamente ‘nós’ temos. As pessoas trazem as cadeiras cá para fora, mesmo em prédios de cinco andares, e ficam a conviver cá fora uns com os outros. Porque é que se perdeu esse hábito de comunidade entre nós? Hoje, em muitos casos, nem conhecemos os nossos vizinhos”, concretiza.
A Conferência Solidariedade e Arte, da próxima quinta-feira, insere-se no âmbito do projeto SoliCultEu, promovido pelo Teatro dos Aloés, juntamente com os parceiros Citizen Kane (Alemanha), Replika (Roménia) e UNATC (Universidade de Teatro de Bucareste). “Este intercâmbio visa gerar conhecimento sobre as práticas de solidariedade europeias traduzidas em experiências artísticas e discutir o papel da arte e da solidariedade na construção de sociedades mais justas e inclusivas”, sublinha o teatro.
Do vasto programa da conferência destaca-se a sessão “À Volta de ZHA! e outros projetos artísticos, de base comunitária e intercultural para a transformação social”, que estará a cargo de Inês Carvalho e André Sousa, das Visões Úteis (10h45).
Às 12h20, a jornalista Conceição Lino modera um debate com todos os intervenientes dos painéis da manhã em busca de respostas.
À tarde (14h20), a Orquestra Geração apresentará Música para a Inclusão, com Helena Lima, seguindo-se a sessão Teatro e Comunidade: desafios imaginosos, por Rita Wengorovius e Armando Nascimento Rosa, da Escola Superior de Teatro e Cinema (14h45).