Na região da Grande Lisboa, a Amadora destaca-se como um dos melhores locais para os fãs de arte urbana. A cidade possui imensas empenas de edifícios totalmente adornadas com pinturas, além de detalhes mais subtis em várias paredes, que merecem ser exploradas de perto.
Um dos principais eventos anuais da Amadora é o festival de arte urbana Conversas na Rua, que regressou para a 10.ª edição a 26 de agosto e prolonga-se até domingo, 8 de setembro. Durante este período, uma série de instalações de street artistas nacionais pode ser apreciada em diversos pontos do concelho.
Nesta edição, Odeith — conhecido pelos seus grandes murais de figuras como Carlos Paredes, Amália Rodrigues, Zeca Afonso, Fernando Pessoa e Eusébio na Amadora, muitos dos quais em 3D — criou mais uma obra na sua cidade-natal.
O mural, localizado num edifício nos Moinhos da Funcheira, presta homenagem ao capitão de Abril, Salgueiro Maia. O artista, que também é embaixador da iniciativa, partilhou nas redes sociais: “A 25 de Abril de 1974, Salgueiro Maia executou uma operação militar crucial com as Forças Armadas portuguesas, alcançando a vitória sem uma única baixa, evitando o combate e mostrando respeito pelos derrotados. Tomou todas as medidas para prevenir quaisquer atos de violência que pudessem levar a uma futura opressão”.
A pintura é inspirada numa célebre fotografia de Alfredo Cunha, conhecido por algumas das imagens mais emblemáticas do 25 de Abril. O fotógrafo de 70 anos cresceu na Amadora e aí iniciou a sua carreira.
Vale a pena recordar que o mesmo retrato de Salgueiro Maia já havia inspirado, em 2014, a criação de um mural na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O trabalho, concebido pelos artistas Vhils, Miguel Januário, Frederico Draw, Diogo Machado e Gonçalo Ribeiro — da plataforma cultural Underdogs — foi alvo de uma renovação o ano passado, como a NiT lhe contou. A reinterpretação da obra, inaugurada a 8 de novembro de 2023, ficou a cargo de Tamara Alves, Sara Fonseca da Graça, Moami e Mariana Malhão (que também integram o coletivo Underdogs).
Alfredo Cunha também viu o seu trabalho reconhecido noutra criação de Vhils. Em abril, Alexandre Farto (nome de batismo do artista plástico) apresentou um painel com aproximadamente quatro mil azulejos vidrados, que celebra 50 anos de história e faz uma homenagem ao fotógrafo. Esta obra, intitulada “Honrar Quem Trabalha”, está exposta na fachada da Câmara Municipal da Amadora e representa uma fotografia capturada por Cunha durante uma manifestação, em agosto de 1975.
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