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O professor de música da Amadora que já abriu concertos dos Coldplay

Márcio Augusto já encheu a MEO Arena e toca com Bárbara Bandeira e Plutónio.
A paixão pela música começou cedo. Tinha 12 anos.

Quando Márcio Augusto, 31 anos, começou a acompanhar a irmã Tânia, que estudava teclas na escola Maria Luzia, na Amadora, estava longe de imaginar que iria apaixonar-se pela música e que, 18 anos depois, seria o baixista de Bárbara Bandeira, Plutónio, Maninho e que já tinha feito a primeira parte dos Coldplay, em 2023 em Coimbra.

“Quando olho para trás, é uma sensação incrível. Nunca pensei que isto seria possível, mas também é a prova de que quando queremos muito as coisas, temos de trabalhar, para elas acontecerem”, conta à New in Amadora este músico natural da Amadora, que sempre viveu aqui e que tem orgulho em dizer que é “uma espécie de embaixador musical do concelho”.

Nas visitas aos ensaios da irmã, cinco mais velha, Márcio ficava fascinado com os instrumentos, “sobretudo as guitarras e as baterias”. Tanto que os pais notaram o interesse e perguntaram-lhe se ele não queria também estudar música ali na escola.

“Disse-lhes que sim, que gostava de tocar bateria. Eles vetaram logo [risos]. ‘Eh pá, bateria faz muito barulho em casa, esquece lá isso’”, recorda o músico. Não desistiu, começou a investigar os instrumentos, as suas sonoridades e optou pelo baixo.

“O problema é que eu era um puto muito inconstante”, admite Márcio. “Um dia tinha uma ideia e no dia seguinte já tinha outra ideia. Os meus pais tiveram uma conversa comigo e disseram-me: ‘tens mesmo de saber o que queres. Não vamos estar a gastar tanto dinheiro num baixo para dentro de uma semana tu já te estares a borrifar para aquilo’”.

O miúdo, então com 13 anos, disse que sim, que era mesmo aquilo que queria. “Chateei-os tanto que lá me compraram um baixo”, momento que Márcio se lembra de forma clara. “Fomos de comboio até Entrecampos, a uma loja que é a Euromúsica e que ainda existe. Comprámos o baixo e voltámos para casa. Eu já tinha visto tantos vídeos, e ouvia muito uma banda de que adorava que eram os Franz Ferdinand, e via covers no YouTube. Via tanto que quando tive o baixo, eu já conseguia tocar algumas músicas. Havia ali uma grande naturalidade”.

Esteve um ano a tocar sozinho em casa, antes de ir para a escola onde a irmã tinha aprendido. “Sou um autodidata”, afirma à NiA. Depois então é que foi consolidar o que já sabia, até porque queria conhecer mais gente que tocasse.

A primeira banda

“Eu queria tocar com pessoas, mas não sabia onde encontrar pessoal para formar uma banda. Foi lá na escola de música que conheci um rapaz, ficámos muito amigos e formámos a nossa primeira banda. Ele chamou dois amigos que também tocavam, todos da Amadora e começámos a tocar juntos”. Eram os Last Call.

Márcio ainda era “um puto, no 9.º ano da Roque Gameiro”. O primeiro concerto que deram foi na República da Música, em Alvalade, que já fechou. “Enchemos aquilo com os nossos colegas da Secundária da Amadora e a partir daí eu ganhei-lhe o gosto”.

Quando acabou o ensino secundário, o jovem da Amadora foi estudar jazz para o Hot Cub, em Alcântara, mas não acabou a formação. “Comecei a frequentar o Tokyo, no Cais do Sodré, que era onde paravam os melhores músicos do País”. E foi assim que foi conheceu mais gente, outros músicos, para trocar experiências.

“Para ganhar algum dinheiro, fui dar aulas para a escola de música Desafios, onde conheci o Ariel, hoje um baterista meu grande amigo, que já trabalhava na música, com o Anselmo Ralph, entre outros”, recorda.

No intervalo das aulas, e enquanto não chegavam os seus alunos, Márcio ficava na sala de aula a praticar. Na sala ao lado estava Ariel. “Ele ouvia-me e houve um dia que espreitou à minha porta e disse-me: “Fogo, tu tocas bué da bem. Devíamos tocar juntos”. E eu lembro-me de ter pensado: “Fogo, quem me dera tocar contigo”.

Vanessa Ricardo, diretora da Academia Desafios, decidiu formar uma banda comigo, com o Ariel e com mais dois elementos, e a partir daí ficámos muito amigos. Tanto que, algum tempo depois, os dois músicos formaram os Soul Cats, com mais três elementos, e ficaram a tocar todas as semanas à terça-feira, no Tokyo.

“Foi incrível. Abriram-se muitas portas, porque muitos músicos iam lá ver se encontravam gente para as suas bandas. Aliás, a minha relação com o Plutónio aconteceu por causa do Tokyo. O manager do Plutónio conhecia o Ariel e pediu-lhe que lhe arranjasse um teclista e um baixista e foi assim que comecei a tocar com ele, em 2017”, sublinha à New in Amadora.

A coroa de glória

A partir daí, nunca mais parou. Começou a surgir muito trabalho, já era requisitado para substituir outros baixistas, quando estes podiam. Assim tocou com o Black Mamba ou com os Amor Eletro.

Mas foi a 17, 18, 20 e 21 de maio de 2023 que Márcio conheceu o primeiro grande pico da sua carreira, quando Bárbara Bandeira foi convidada para abrir o concerto dos Coldplay no Estádio Cidade de Coimbra. Eram para ser dois, fora quatro. “Uma coisa incrível, uma sensação indiscritível, quatro noite esgotadíssimas, mesmo sabendo que a maior parte das pessoas não estavam ali para nos ver, mas para ver Coldplay”.

Márcio recorda que, durante os concertos, só pensava estar a viver um sonho e na quantidade de pessoas que dariam tudo para estar no seu lugar.

“Foi um pico muito fixe na minha carreira e este ano voltou a acontecer outro, com dois concertos esgotadíssimo na MEO Arena com o Plutónio. A sensação foi diferente, mas tão boa como com os Coldplay, até porque ali a malta estava toda para ver mesmo, Plutónio”.

Hoje, Márcio é baixista de Bárbara Bandeira, Plutónio e Maninho, continua a dar aulas, agora online e na Academia da Guitarra, em Algés, e continua “a levar o som da Amadora aos quatro cantos do mundo”.

Orgulho na Amadora

“Sinto-me embaixador da Amadora e tenho um grande orgulho em dizer que sou da Amadora”, garante o jovem músico, que sempre viveu na cidade. “Sempre vivi cá, primeiro numa casa junto à pastelaria Por do Sol, perto da Clínica Santo António, depois passei para a Rua Dr. Teixeira Coelho, perto do cruzamento quando se chega à Amadora, e que pertence à freguesia de Águas livres, e depois sim mudei-me para o Borel, na Venteira, do outro lado da estrada”, descreve.

Se não gostasse de viver no concelho, garante que não teria comprado casa por aqui. “Mas eu adoro, foi aqui que eu nasci. É claro que a Amadora, como todas as grandes cidades, têm coisas boas e más. Há muitos cidadãos, há muito bem, há muito mal, como em todo o lado. E há um grande preconceito em relação à Amadora, porque depois quem vive cá, normalmente gosta”, enfatiza, acrescentando que toda a sua família pertence a Vinhais, conselho de Bragança.

“As minhas origens são de lá, é um sítio onde adoro ir passar férias. Os meus pais vieram para cá em busca de trabalho”. E ficaram. Ter comprado casa junto aos pais, onde vive com a namorada há cinco anos, foi uma forma de ficar perto deles. “É a situação mais cómoda possível”, brinca. “Tenho o Continente do meu lado direito e os meus pais em frente. Sou um filho da mamã, que faz comidinha para mim. Acho que, mesmo quando eu tiver 50 ou 60 anos, vai ser sempre assim. Tenho muita sorte”.

Filhos não há ainda, mas o casal pensa em constituir família. “A maior parte dos nossos amigos começa a ser pai e o cerco aperta-se”, brinca, mas Márcio diz que não há pressão. “Quando acharmos que é altura, será”, conclui,

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