Ausenda Castanheira sempre foi uma “bolinha andante”. É a própria que diz com todas as letras. “Sempre fui gulosa, adoro doces e, por isso, sempre fui gordinha, uma bolinha andante”, conta à New in Amadora.
Em 2017, apresentaram-lhe a Dieta Paleo, um regime alimentar que se baseia em alimentos frescos, como carne, peixe, legumes, muita proteína e poucos hidratos de carbono — os alimentos processados e açúcares refinados ficam de fora. “Foi uma mudança muito importante na minha vida. Não me tornei vegetariana — às vezes, há essa confusão. Não como glúten, nem açúcares refinados, nem nada processado, nem embalado”, conta Ausenda, de 45 anos.
Os efeitos, garante, estão à vista. “A partir do momento em que adotei este estilo de vida, deixei de andar tão inchada, porque o glúten é um inflamador natural dos nossos órgãos. E, portanto, hoje, sinto-me melhor”.
Ausenda sempre gostou de comer e o facto de ter sido sócia de um restaurante — o Baptista, na Buraca —, em conjunto com os seus pais, manteve-a no meio da comida. A tentação era grande, mas com os seus novos hábitos alimentares, e com as pessoas que, entretanto, conheceu e que também seguiam a Dieta Paleo, veio o desafio: “Eu já fazia os doces do nosso restaurante e, de repente, começaram a pedir-me se eu não faria doces e bolos sem glúten. Confesso que tal nunca me tinha passado pela cabeça”, recorda.
Pesquisa minuciosa
Ausenda começou a pesquisar sucedâneos para a doçaria. “Há quem defenda — alguns chefs incluídos — que fazer doces não é cozinhar. Eu não concordo. Na cozinha, até podemos colocar alguns ingredientes a olho, que a coisa sai quase sempre certa. Na doçaria não é assim. Se nos enganamos na quantidade de farinha, o bolo já não fica a mesma coisa. Pior ainda nos alimentos sem glúten, porque estamos a trabalhar com farinhas que, não tendo glúten, não têm a cola natural dos alimentos”.
Com formação base em laboratório, Ausenda é técnica de controlo alimentar químico e microbiológico. Portanto, está bem habituada a essa minúcia. “Demorou bastante tempo até eu acertar com as farinhas, para que os bolos não se desmanchassem”.
Apesar de não ter deixado de fazer doces tradicionais, com ovos, açúcares refinados e farinhas brancas, Ausenda percebeu que os doces sem glúten eram um filão importante para explorar.
“Só uso farinhas feitas por mim, farinhas de frutos secos, de amêndoa, de noz, de avelã, de caju, de milho. Portanto, todo o tipo de farinhas que não levam glúten. E depois também não trabalho com açúcares refinadas, recorro às tâmaras, ao açúcar de coco, ao mascavado, ao mel, ao agave”, explica.
Quem olha para os bolos e doces que Ausenda Castanheira fabrica não consegue, obviamente, perceber do que são feitos. Mas uma coisa é certa: têm um ótimo aspeto. “Essa ideia que as coisas são secas e com um sabor estranho são fruto da imaginação de quem nunca provou”, brinca a empresária.
A partir de 2020, com a pandemia, Ausenda não teve mãos a medir. “A marca cresceu muito durante toda a época da Covid. Eu corri de norte a sul de Portugal a fazer a distribuição dos meus doces, foi uma forma de eu ir ao encontro das minhas clientes”, recorda à NiA, lembrando que o facto de, na altura, fazer parte de um numeroso grupo de Facebook de adeptos da dieta Paleo “ajudou muito a expandir a marca”.
Passada a novidade, Ausenda sentiu o negócio fraquejar um pouco em 2024. “É natural, as pessoas também vão atrás de modas. E quando eu comecei a fazer doces sem glúten, havia pouca gente a fazer o mesmo. Hoje já há mais gente e é natural que as pessoas vão experimentando novas marcas e também gostando”.
A empresária não desiste da sua marca e continua apostada nos doces, se bem que agora divida a atividade com outra a paixão: as crianças. “Trabalho numa creche, porque só com os doces não me conseguia sustentar”, explica.
Não se pense, porém, que a doceira está desanimada. “Ando nisto há tempo suficiente para perceber que isto são fases. E estou empenhada em continuar a lutar pela minha marca, que tanto prazer e trabalho me deu a conquistar”. As encomendas mantêm-se a um ritmo regular.
“Tenho clientes fixos que me pedem bolos tradicionais e outros já habituais que me continuam a encomendar os doces glúten free”.
Os doces sem glúten que mais se vendem
E neste particular, quais são, afinal, os bestsellers de Ausenda? “Em primeiro lugar, destacado, a Tarte de Caramelo Salgado (de 3,25€ o tamanho individual a 31€ o tamanho XL) – feita com tâmaras, manteiga de amêndoa feita por mim. Dá imenso trabalho. E foi muito tempo de pesquisa, mas compensou muito. É fantástica”, diz à New in Amadora.
No segundo lugar do pódio está o Morgado do Buçaco (de 3,25€ a 28€), “que é um doce conventual de panquecas”, que Ausenda adaptou à Dieta Paleo. “O doce, em vez de ser aquele cheio de ovos e açúcar, é feito com leite de coco e leite de amêndoa. As panquecas são assadas no forno só com farinha de noz, são panquecas de claras, não levam mais nada”.
Em terceiro lugar neste campeonato, surge a Tarte de Moreno Crocante (de 3,25€ a 31€). “Tem uma base de farinha de amêndoa e farinha de caju, depois leva um creme no meio de mascarpone com iogurte grego e depois um creme de caramelo feito com gemas e leite de coco, completamente diferente do outro caramelo. É de lamber os dedos”.
Carregue na galeria para ver algumas imagens dos bolos criados por Ausenda.