Quando Carlos começou a jogar basquete, aos 14 anos, os pais não acharam muita graça à coisa. “Os tempos eram outros e não havia a real perceção de que o desporto era um fator fundamental no crescimento e desenvolvimento saudável das crianças”, recorda Carlos Casegas, hoje com 60 anos.
Ainda assim, não desistiu, porque “a paixão não deixou” e na tropa continuou a jogar. Quando saiu do serviço militar, e entrou no mercado de trabalho, ainda tentou conciliar, mas “a vida profissional falou mais alto e durante 30 anos” nunca mais ouviu falar de basquetebol.
“Até há sete ou oito anos, quando voltei à modalidade, agora como treinador, porque o bichinho estava cá e não morreu”. Há um ano meio foi convidado por um amigo para ir treinar a equipa de sub-16 do clube de basquetebol da Escola Secundária da Amadora (ESA), clube da cidade que tem já 42 anos.
“Eu aceitei ser adjunto, mas o treinador principal teve um problema familiar, saiu e eu lá assumi o comando do barco”, conta à New in Amadora o diretor desportivo da ESA Basquetebol, que há dois meses integra a vice-presidência do clube, na direção que acabou de ser eleita.
“Era preciso abanar o clube”, diz Carlos, que acrescenta que “o grande objetivo é em quatro anos dotar a coletividade de todos os escalões de basquetebol, nomeadamente as seniores”. “Queremos colocar a ESA, que tem 42 anos, de novo cá em cima”, reforça.
Treinos de captação de basquete apostam na formação
“A ideia é também dar um projeto às meninas, que sabem que podem ir subindo até aos seniores. Isso é altamente motivador para elas. Sabemos que não temos condições para ir para uma Liga, a não ser que tivéssemos muitos apoios”, reconhece.
A casa, porém, constrói-se — ou reconstrói-se, neste caso, pela base — e o clube está a apostar tudo na formação e querer atrair miúdas para a prática do desporto. Por isso, a partir de segunda-feira, o pavilhão da escola abre as portas para “uma espécie de campo de verão para as meninas da Amadora poderem vir treinar e divertir-se, ocupando de forma saudável as suas tardes, agora que as aulas vão chegar ao fim”.
Os treinos são para miúdas nascidas entre 2008 e 2015, ou seja, entre os 10 e os 17 anos. “Vamos dividir os treinos em mini-basquete e nos escalões de sub-14 e sub-16”, explica Carlos Casegas, que adianta que “nos últimos dois meses, desde que esta direção assumiu funções, tem havido um grande aumento da procura de miúdas”. E já andam perto das 50.
“Temos divulgado muito a modalidade junto das miúdas da Amadora. Temos feito um trabalho extraordinário na divulgação, entre colocar cartazes nos cafés, ativar as redes sociais, entregar panfletos nas escolas. E o que é certo é que está a dar resultado”, afirma à NiA.
O treinador e diretor desportivo admite que “nos últimos anos, o basquetebol perdeu muito terreno no desporto escolar e de formação”. “Já não estou a falar em relação ao futebol, que sempre foi a modalidade principal que os miúdos gostavam, mas o voleibol, o andebol, o futsal, hoje estão a ir por aí acima. Mas nós não estamos dececionados com o que se está a passar, porque o que temos sentido é que as nossas crianças gostam de cá estar, divertem-se, estão felizes, aprendem valores do desporto, aprendem a modalidade. E isso é o mais importante”.
Os tempos mudaram e a importância do apoio dos pais e encarregados de educação nesta batalha é também fundamental. “Já não estamos nos meus 14 anos. Hoje, os pais incentivam a prática desportiva dos filhos. E, de facto, quando nós perguntamos aos pais das meninas que vêm experimentar o mini-basquete se elas gostaram, eles dizem sempre que adoraram e que querem continuar”.
Apesar das dificuldades, há uma batalha que o clube sente que está a conseguir vencer. “Tirá-las de casa, onde os jovens estão hoje agarrados ao telemóvel, já é um triunfo incrível. Quanto mais não seja, isso já nos deixa cm uma sensação de dever cumprido. E vê-las felizes nestes treinos e depois a construírem a sua personalidade no clube é muito gratificante”, explica o dirigente, que acrescenta que a nova direção quer “estreitar a relação com a própria escola”.
“Sempre houve um afastamento grande, sobretudo nos últimos anos. Nós utilizamos as instalações, mas pouco mais. Já tivemos uma reunião com a direção da escola, para estarmos mais enturmados. Queremos que os responsáveis da escola estejam presentes quando apresentarmos as nossas equipas lá para outubro. Não só a direção da escola, com envolver a comunidade escolar. E queremos também envolver a esgrima da ESA, porque também faz parte da escola”, conclui.
Carregue na galeria e veja mais imagens do Clube de Basquetebol da ESA.