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Danças orientais, hip hop, Pilates ou ioga. Nesta escola na Damaia aprende-se quase tudo

Estela começou aos quatro anos e nunca mais parou. Fundou o Stellae Studio com mais de 30 aulas por semana.
Cor, alegria e movimento.

Quando, aos quatro anos, experimentou pela primeira vez o ballet, Estela Cameira, hoje com 31, percebeu que era a dança que a fazia feliz. “Os meus pais viram logo que eu tinha muito prazer a dançar e muito jeito também. Estava sempre a repetir aqueles gestos, mostrando uma graciosidade que não era normal para a idade”, recorda à New in Amadora.

As memórias de tão tenra idade são “difusas, quase fotográficas”, mas a família tornou nítidos os retratos que a sua consciência guardou. “Estava sempre a pedir para ir dançar e os meus pais sempre apoiaram, porque naquelas idades o ballet e a dança estimulam muito a criatividade dos miúdos.

Estavam dados os primeiros sinais e Estela não fugiu deles, pelo contrário, explorou-os. “Não fui menina para continuar no ballet, porque quis experimentar algo mais agitado. Sabia que queria trabalhar com o corpo, com a plasticidade e o movimento, mas o ballet sabia-me a pouco”, recorda.

Tentou a ginástica, mas percebeu que não era por ali. Finalmente descobriu o hip hop. “Adorei. Era a total liberdade de movimentos no corpo, aliada a uma certa mensagem que também passava pela liberdade de pensamento.”

Mas quem disse que uma jovem adolescente é alguém estável, que sabe sempre o que quer, que não tem espírito livre e que não anda sempre a saltitar? “Sempre tive em mim esta sede de descoberta, sempre fui aberta ao novo”.

O amor proibido de Jade apaixonou-a pelas danças orientais

Tinha 15 quando se apaixonou pelas danças orientais. Portugal vivia a ressaca de “O Clone”, novela brasileira da Globo, que contava a história do amor proibido entre Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benicio), passada entre o Brasil e Marrocos, e tinha colocado o mundo — e Portugal também ­— a descobrir a cultura e as danças orientais.

De repente, todas as miúdas queriam aprender a dançar como Jade. Estela foi uma delas. “Sim, teve grande influência, sim”, reconhece à NiA. “Na altura, quando ‘O Clone’ passou em Portugal [2002], era ainda muito pequena, talvez 10, 11 anos, mas o movimento que se seguiu foi muito grande e contagiou-me”, relata.

Após um primeiro contacto com a dança oriental na comunidade da Damaia que, com ela, andava na catequese, percebeu que, agora, sim, tinha encontrado o seu caminho. “Era uma sensação diferente de todas as outras que tinha experimentado”.

Participou em várias competições, ganhou prémios, até que foi convidada para partilhar o seu conhecimento em algumas aulas. A menina que tinha começado no ballet aos quatro anos tornou-se professora aos 23 anos.

“Fui fazendo formações e participei em diversos festivais nacionais e internacionais, e contactei com vários professores de danças orientais, incluindo professores egípcios, com quem conseguimos aprender bem o estilo”, conta a bailarina, que tinha um sonho: o de fundar a própria escola, onde pudesse centralizar as aulas que dava em instituições dispersas.

“Estou a provar a mim própria que é possível viver da arte”

“Comecei a procurar um espaço e acabei por encontrar este na Damaia, que percebi que era ótimo para o que eu queria”. E assim, no pior ano possível para abrir um negócio — 2020, ano da pandemia de Covid 19  — abriu o Stellae Studio, a 10 de outubro, na ressaca do primeiro confinamento.

Estela não podia estar mais feliz. “Tem sido um sucesso. Este mês chegámos aos 200 alunos e acho que isso é um bom marco. Temos 15 professores em permanência, duas dezenas de modalidades e mais de 30 aulas por semana. E no próximo mês vamos acrescer ainda mais”, promete.

Ballet, barra de chão, força e mobilidade, ballet kids, dança oriental kids, hip hop, acro dance, Bollywood e outra danças indianas, dança oriental e do Ventre, lyrical dance, african dance roots, sevilhanas, blues, danças de salão, forró — enfim, a lista de disciplinas nunca mais acaba.

Um dos maiores sucessos da Stellae Studio, porém, são aulas de ioga e Pilates, que “têm cada vez mais procura”, reconhece a bailarina profissional e empresária. “Claro que somos uma escola de dança, mas o Pilates e o ioga são atividades de procura crescente. Aliás, temos vários horários precisamente por isso”, afirma.

O foco da escola é a dança, explica Estela, mas é, “acima de tudo, um espaço de bem-estar físico e mental”. “Portanto, faz todo o sentido termos aulas complementares, que contribuem para esse bem-estar dos nossos alunos. E na sociedade atual, em que andamos sempre numa correria, as pessoas procuram um momento no dia em que consigam esquecer, nem que seja por uma hora, os problemas do trabalho, e estar mais relaxadas.”

Os preços das mensalidades variam consoante o número de aulas — 28€, 38€ e 48€ por mês para uma, duas ou três aulas por semana —; e os valores dos passes dependem da modalidade escolhida — 55€ para as danças sociais e para as danças de postura e bem-estar, em que os alunos podem participar em todas as sessões específicas de cada tipo marcadas em calendário, e 60€ por mês para livre trânsito total.

A criatividade da engenharia

A vida, porém, está cheia de surpresas. Ou talvez não. Quem diria que a menina que aos quatro anos começou a fazer ballet, que experimentou tudo o que era dança, porque adorava a “descoberta”, a “criatividade” e o “movimento”, haveria de escolher licenciar-se em Engenharia Eletrónica?

Estela Cameiro ri-se perante o espanto. “A engenharia eletrotécnica também tem a sua criatividade, se bem que de outra forma. Gosto de estar a par das novidades tecnológicas, gosto de perceber como modernizar o nosso dia a dia e, apesar de criativa, gosto de planear, estruturar e impor regras que funcionem”, justifica. A engenharia deu-lhe isso.

Até há bem pouco tempo, aliás, a bailarina conciliou as duas áreas. “Anda exerci, mantive as duas profissões em paralelo: era professora de danças orientais a uma hora do dia e engenheira eletrotécnica noutra hora do dia”, ri-se.

Parou para se focar por inteiro na escola, mas não esquece os anos a fio em que ouviu a conversa estafada de que “em Portugal não se vive da arte”. “Desde muito cedo, em casa, na escola, é-nos incutida a ideia de que a arte não é uma profissão, é um hobby”, sublinha.

Mesmo na sua própria casa, recordando que os pais sempre foram um importante estímulo para praticar ballet. “Nunca deixaram de recomendar que estudasse e procurasse ter um plano A, uma profissão a sério, porque, lá está, em Portugal ninguém vive da arte.”

O seu triunfo na dança e o sucesso da sua escola é também uma confirmação de que é possível que deixa Estela Cameiro ainda mais feliz. “Estou a provar a mim mesma e aos outros que, não, isto também é uma profissão e quero viver disto. E, se eu consigo, outros também podem conseguir”.

Carregue na galeria para ver algumas imagens da escola Stellae Studio e das alunas em atividade.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Praça Natália Correia 14 A
    2720-414 Amadora
  • HORÁRIO
  • De segunda a sexta-feira, aulas entre as 17h30 e as 21h30
  • Ao sábado, aulas entre as 10h30 e as 13 horas
  • É possível marcar aulas noutros horários

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