Bastou Paulo Varela, 31 anos, abrir o capô de um carro, para se assustar. “Pensei: não é isto que quero fazer na vida”, recorda o personal trainer. Tinha 15 anos, estudava na Casa Pia de Lisboa, em Pina Manique, e hesitava entre duas áreas: mecânica ou desporto.
Como adorava automóveis, decidiu por impulso. No entanto, no fim do primeiro dia percebeu logo que tinha cometido um erro e mudou de rumo. “Na altura, a Casa Pia tinha uma coisa boa, não sei se ainda se mantém: os alunos escolhiam o curso e faziam uma semana de teste, para confirmar se era mesmo aquilo que queriam”, conta.
“Uma sorte”, acrescenta Paulo, que agarrou a possibilidade e arrepiou caminho. Hoje, partilha com a companheira, Laura Capucho Pimpão, também 31 anos, a gestão de um estúdio de fitness na Amadora, em Vila Chã, o Physical Performance, aberto desde fevereiro do ano passado.
“O nosso conceito é um espaço muito familiar, de proximidade. Em 2019, quando abri o meu primeiro ginásio, em Linda-a-Velha, já era esta a ideia que tinha.” Na altura, estava sozinho. “Entrava às 6 horas e saía todos os dias às 20 horas, foi duro. Fazia tudo: era faxineiro, comercial, personal trainer”, recorda.
Em 2023, quando conheceu Laura Pimpão, a vida de Paulo mudou. “Não só porque é a mulher da minha vida, como é uma companheira de caminho e partilha deste mesmo sonho”, afirma o PT, que se prepara para ser pai em setembro.
O ginásio é dos dois e, apesar de Paulo ser o homem do fitness, diz que a mulher “é a patroa”. “Somos cinco cá, mas como eu costumo dizer, a Laura é que manda em todos nós”, garante com um sorriso feliz.
“É uma peça essencial para o sucesso do Physical Performance. É ela que trata das coisinhas todas, vê o que está a faltar, coordena toda a área logística e de organização do espaço. O trabalho dela liberta-me para a minha atividade principal, que é ser PT”, descreve.

Laura aceita a missão de “patroa” de bom grado. O lado empreendedor ganhou-o — ou pelo menos, manifestou-se — quando estava na aviação. “Fui assistente de bordo e nessa altura surgiu a hipótese de entrar no ramo imobiliário. Foi aí que nasceu o bichinho do empreendedorismo”, relata a co-proprietária.
O desporto não era a sua prioridade, mas Laura sentiu que precisava de “ganhar mais confiança” em si própria. “Comecei a treinar, a ter uma rotina mais saudável e apaixonei-me pela área do fitness”, explica. A paixão por Paulo fez o resto.
Espírito de entreajuda
O espaço não tem as dimensões de um ginásio dos grandes grupos de fitness. “É uma vantagem, porque não queremos ser como uma cadeia de fast fit, em que só o dinheiro interessa. Embora seja também um negócio, o nosso foco principal é oferecer um bom serviço aos nossos clientes”, enfatiza Laura.
Paulo concorda. “Tudo o que as pessoas se queixam dos ginásios grandes não têm aqui. Não têm de esperar porque as máquinas estão ocupadas, não há vergonhas e olhares estranhos se as pessoas estão acima do peso. Ou, pelo contrário, se a pessoa está completamente em forma, não vem para aqui para se evidenciar”, exemplifica. O casal deixa claro que o seu objetivo foi “montar um estúdio em que toda a gente cuida um dos outros, como numa família, em que há um espírito de entreajuda”.
O espaço tem dois tipos de serviço: o individual com PT, em que o cliente um serviço de personal trainer personalizado, e o em grupo com PT. “Os packs de grupo com PT acabam por ser os que mais vendemos, precisamente por espírito de comunidade. Puxam uns pelos outros.”
Os preços são “competitivos e abaixo do mercado”, garante Laura. Os packs individuais variam entre 176€ por mês (sessões duas vezes por semana) e os 278 (4 vezes por semana). Já as aulas de grupo, variam entre 100€ (duas vezes por semana) e os 200€ (quatro vezes por semana).
“A indústria do fitness é muito cara, infelizmente”, nota Paulo Varela. “Os ginásios, hoje, têm um único conceito: serem máquinas de fazer dinheiro. Por isso, é que têm lucros elevados, que não são obtidos com os clientes que treinam regularmente, mas com aqueles que pagam e não vão”, diz.
No Physical Performance “a estratégia não é essa”. “Não queremos depender de contratos de fidelização, queremos sócios satisfeitos. Se estiverem satisfeitos, estão fidelizados e continuam”, garante Laura Pimpão.
“Temos um estúdio pequeno, mas com uma qualidade de equipamentos e serviços muito tentadora. E os clientes acabam por se motivar e vêm treinar regularmente, sem necessidade de contratos de fidelização, aos quais acabam por ficar presos durante um ou dois anos, mesmo que não vão treinar”, acrescenta o PT.
A estreia como personal trainer
Quando abriram o estúdio, em 2024, contavam com 19 sócios, todos provenientes do espaço anterior de Paulo, situado em Linda-a-Velha. “Num ano demos um grande pulo”, admite o empresário à New in Amadora.
“Agora, estamos com 121, o que é ótimo. Assim que começámos a anunciar a nossa abertura, ainda antes da inauguração, conseguimos angariar vários clientes. O boca-a-boca foi muito importante”, reconhece.
Laura, por sua vez, faz questão de lembrar o esforço envolvido: “Trabalhamos imenso”, diz, dirigindo-se ao parceiro. “Verdade, mas costumo dizer que não podemos tirar o pé do acelerador. O objetivo não é angariar todos os potenciais clientes que aparecem, mas sim de encontrar um equilíbrio entre o crescimento — essencial, porque isto é uma empresa — e a manutenção da qualidade do nosso serviço.”
O desejo de progresso gradual é evidente na forma como gerem o negócio. “No início, era apenas eu a orientar as sessões”, explica Paulo. “À medida que fomos ganhando mais clientes, sugeri à Laura a contratação de outro treinador. Depois veio mais um, e no começo deste ano juntou-se mais uma profissional. Privilegiamos uma evolução sólida e controlada”, refere o empresário, cuja ligação ao desporto é antiga.
“Sempre joguei futebol, desde os meus sete anos, na rua com amigos, na escola”, recorda o empresário, de origens cabo-verdianas, embora já tenha nascido em Portugal. “Somos muitos irmãos. Quatro irmãs da parte da mãe e cinco irmãos da parte do pai. Somos muitos”, repete o personal trainer com um sorriso.
O percurso como treinador começou em 2019. “Frequentei a Casa Pia, mas tive de investir em formação específica para personal trainers, já que a escola preparava-nos para lecionar Educação Física, não para esta área em particular.”
Os primeiros a confiar nos seus métodos foram uma cunhada, os sobrinhos e um dos irmãos. “Nessa altura só pensava: ‘não tenho nome no mercado, ninguém sabe o que faço nem conhecem os meus treinos, como vou montar o meu próprio negócio?”.
A necessidade, uma vez mais, aguçou o engenho. Paulo decidiu gravar as sessões ao ar livre com a cunhada, que, por sua vez, trouxe vários conhecidos para se juntarem ao grupo. “No final do verão, já orientava aulas para cerca de 20 pessoas, e faziam-me cada vez mais perguntas sobre os valores praticados. Aí percebi que estava no rumo certo.”
Agora, à espera do primeiro filho, Paulo e Laura celebram o percurso feito. “Este projeto é o nosso primeiro filho e temos de o tratar como tal, exige dedicação. Não é apenas uma questão de rentabilidade. Se surgirem dificuldades com o negócio, é fundamental perceber as causas e procurar soluções”, defende Paulo. Laura concorda e acrescenta: “Tal como não se abandona um filho quando algo não corre bem, também não vamos desistir deste desafio.”
Carregue na galeria e veja mais imagens do espaço de fitness de Vila Chã.