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Este ingrediente “escondido” em muitos produtos alimentares é péssimo para a saúde

Embora seja um dos produtos mais consumidos em todo o mundo, é também um dos mais controversos — e criticados.
Saiba tudo.

Gelados, batatas fritas, chocolate, bolachas, bolos, pão de forma, margarinas, produtos de higiene pessoal e cosméticos, como desodorizantes e sabonetes, e até mesmo rações animais e biocombustíveis. A lista de produtos que contêm óleo de palma é tão extensa que é difícil de resumir. Obtido do fruto da palmeira Elaeis guineensis, é um dos óleos vegetais mais utilizados no mundo, mas nem todos o conhecem bem. Conhecido como azeite de dendê no Brasil, é um ingrediente fundamental das cozinhas africana e afro-brasileira, em pratos como a moamba angolana, o chabéu guineense ou o vatapá brasileiro, entre muitos outros.

Do ponto de vista nutricional, o óleo de palma é rico em vitaminas A e E. Contudo, o seu elevado teor de gorduras saturadas tem suscitado controvérsias relativamente ao seu uso na alimentação, levando a reformulações na indústria alimentar e à exigência de que este ingrediente seja mencionado nos rótulos dos produtos. A Organização Mundial da Saúde e a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (AESA) emitiram vários alertas sobre o potencial cancerígeno deste óleo quando refinado a temperaturas superiores a 200 graus, o que deixou muitos consumidores preocupados e colocou a indústria alimentar europeia sob pressão.

Um dos casos que mais tem dado que falar é o da Nutella, que inclui óleo de palma na sua composição para garantir a sua textura suave e durabilidade. A Ferrero, responsável pelo famoso creme de chocolate e avelã para barrar, defendeu publicamente o uso deste ingrediente, ao contrário de outras empresas europeias do setor alimentar, que têm optado pela sua substituição.

Porém, a fabricante italiana argumenta que substituir o óleo de palma por alternativas como o óleo de girassol alteraria as características do produto, —que representa cerca de 20 por cento das suas vendas. “Fazer Nutella sem óleo de palma resultaria num substituto inferior ao produto original; seria um retrocesso”, defendeu Vincenzo Tapella, gerente de compras da Ferrero, em declarações à Reuters.

Mas, afinal, quais são os perigos associados a este óleo? “É uma gordura em que cerca de 50 por cento da sua composição é saturada, algo prejudicial para a saúde e que aumenta o risco de doenças cardiovasculares”, explica à NiT a nutricionista do Grupo Trofa Saúde, Filipa Costa.

Embora o óleo de palma cru seja rico em vitamina E e carotenoides, que têm propriedades antioxidantes benéficas, acrescenta a especialista, “estes nutrientes tendem a desaparecer durante o processo de refinamento”.

O facto de estar presente na maioria dos produtos alimentares produzidos de forma industrial torna-o num ingrediente bastante consumido e “estão a ser feitos para avaliar a relação entre o seu consumo e o aumento de doenças cardiovasculares ou cancro”.

A sua utilização massiva deve-se à sua maior estabilidade e a “um rendimento até quatro vezes superior ao de outros óleos”. Além disso, a produção é predominantemente realizada no Sudoeste Asiático, onde recebe apoio governamental, tornando-se, assim, mais económica em comparação com outras opções. 

Entre os diversos óleos disponíveis no mercado, como o de girassol ou o de sésamo, o óleo de palma é considerado “o pior devido ao processo de refinamento, que pode resultar na formação de compostos nocivos, como o glicerol, classificado como provável cancerígeno para os humanos”, sublinha a especialista em nutrição.

A aversão ao óleo de palma tem aumentado nos últimos anos, e atualmente, muitos produtos alimentares já têm rótulos que afirmam estar livres deste ingrediente. No entanto, a nutricionista alerta que essa informação não implica necessariamente que o produto seja saudável. “As pessoas tendem a pensar que essas alternativas são melhores, mas isso depende do tipo de gordura utilizada em substituição. É crucial que o consumo não exceda 10 por cento do valor energético total diário recomendado.”

Um dos substitutos mais comuns do óleo de palma é o de coco, que, “apesar de estar na moda, contém 90 por cento de gordura saturada”, recorda Filipa Costa. Portanto, “mesmo que tenha propriedades benéficas, deve ser consumido com moderação”, acrescenta. 

A nutricionista sublinha ainda que, por si só, o óleo de palma já é prejudicial à saúde. “No entanto, a sua presença em alimentos ultraprocessados, que frequentemente contêm outras substâncias, pode torná-lo ainda mais nocivo. O consumo deste óleo deve ser evitado por todos, especialmente por aqueles que sofrem de doenças cardiovasculares ou têm alterações nos níveis de colesterol e triglicerídeos”, conclui.

As críticas ao óleo de palma não se ficam por aqui. Uma delas tem a ver com a falta de transparência da indústria alimentar, uma vez que muitos produtos não especificam claramente o uso de óleo de palma nos rótulos, dificultando a escolha informada dos consumidores. Outra tem a ver com o impacto ambiental: a expansão das plantações de palma tem levado à destruição de vastas áreas de florestas tropicais, principalmente na Indonésia e Malásia, — que lideram a produção mundial de óleo de palma, respondendo por aproximadamente 85 por cento do total.

A indústria de produção de óleo de palma tem sido alvo de um intenso escrutínio quer por não corresponder a padrões adequados de proteção ambiental, como por violações aos direitos humanos, tendo sido associada a problemas sociais como trabalho infantil, trabalho forçado e conflitos com populações locais. 

 

 

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