Na véspera de a freguesia de Alfragide celebrar 45 anos — é este sábado, 22 de fevereiro, com direito a festa aberta a todos —, o seu presidente de junta gostaria de dar um presente aos fregueses. E até o tem bem identificado. “Um centro de saúde”, revela à New in Amadora.
E António Paulo explica a razão: Alfragide, que com a reorganização das freguesias de 2013, passou a ser a mais antiga freguesia do concelho (foi a única que manteve a sua designação original e que não mudou), “é a única freguesia da Amadora que não tem um centro de saúde e a população exige esse equipamento”.
“Todos os dias ando na rua e falo com residentes de Alfragide. E todos me perguntam porque é que Alfragide não tem um centro de saúde? E eu, com toda a franqueza, não sei responder”, confessa o autarca, de 74 anos, que está no final do seu segundo mandato.
Parte da resposta, apesar de tudo, foi dada em 2019, quando o então primeiro-ministro, António Costa, e à época a ministra da Saúde, Marta Temido, inauguraram a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados António Arnaut, na Buraca, freguesia de Águas Livres, com a promessa de que serviria a população “daquela freguesia e uma parte de Alfragide”, recorda António Paulo.
O centro de saúde, hoje com cinco anos e meio, tem mais de 15 gabinetes de consulta, um gabinete de dentista, várias salas de enfermagem e de tratamentos, entre outras valências, e anunciava na altura que iria dar resposta a 22.800 utentes. O investimento na construção deste equipamento rondou os 1,3 milhões de euros, dos quais 30 por cento foram financiados pela autarquia e 70 por cento pela ARSLVT.
“Legítima aspiração”
A verdade, porém, é que a perceção dos residentes em Alfragide não é essa. “Os nossos fregueses têm essa legítima aspiração e acham que a freguesia merece ter o seu próprio centro de saúde, enquanto as Águas Livres têm ou dois ou três centros de saúde”, afirma o presidente da Junta, que, “com honestidade”, não consegue dizer taxativamente se o mais recente centro de saúde da freguesia vizinha chega ou não para todas as encomendas.
“O que eu sei é que há muita gente sem médico de família aqui em Alfragide. Quando me pergunta se aquele centro de saúde chega para as encomendas, a única coisa que lhe posso dizer é esta constatação: se não há médicos de família suficientes e as instalações estão ocupadas, parto do princípio que, se houvesse mais médicos, também haveria mais técnicos, mais auxiliares e mais enfermeiros e não caberiam lá dentro”.
Os Censos à População feitos pelo INE em 2021 indicam que a freguesia de Águas Livres tinha nesse ano 37.607 mil cidadãos e que Alfragide, que parte dos fregueses é suposto o centro de saúde servir, 16.837. Ou seja, tudo somado, mais de 50 mil pessoas.
Os dados do Serviço Nacional de Saúde recolhidos pela NiA, em relação à Unidade de Saúde António Arnaut, apontam, porém, para a existência de apenas 9.895 utentes inscritos — e desses, apenas 2.228 têm médico de família atribuído, a crer na veracidade das informações disponibilizadas pelo SNS. Ou seja, mais de 75 por cento dos utentes ali registados não têm médico de família — e apenas 1,65 por cento por opção.
Relação entre Alfragide e a autarquia é boa
O presidente da Junta de Freguesia de Alfragide confirma que “já teve, no passado e atualmente conversas com a Câmara Municipal da Amadora” para sensibilizar o executivo para a questão, embora, realce, “a decisão não pertença ao poder local, mas sim aos governos”. “Quer a ex-presidente Carla Tavares, quer o atual, Vítor Ferreira, sabem das nossas preocupações e estão solidários com elas”.
Uma coisa é a solidariedade, outra é a realidade. António Paulo não tem esperança de, nos próximos anos, poder oferecer esse presente de aniversários aos afragidenses. “Claro que é um sonho, mas não há qualquer promessa de construção de um novo centro de saúde em Alfragide, até por uma razão. O Centro de Saúde das Águas Livres foi construído num terreno cedido pela Câmara Municipal da Amadora, porque aquela freguesia tinha, e tem, felizmente para ela, espaços para construir, enquanto aqui em Alfragide, o que for construído tem de ser demolido antes, porque não há terrenos livres”.
O autarca, que em 2017 se tornou o primeiro socialista a conquistar a freguesia de Alfragide — num concelho de esquerda, gerido desde o 25 de abril pelo PCP e, desde 1997, pelo PS, Alfragide sempre foi uma freguesia de direita até 2017 — ainda não sabe se vai concorrer a um terceiro mandato, mas deixa claro que “as relações com a câmara são excelentes” e “tem havido uma cooperação muito grande”.
Gozar a vida
“Tenho 74 anos, comecei a trabalhar muito cedo, já estou reformado, e naturalmente também sinto que há coisas que quero fazer: gozar tempo para mim, para a minha família”, conta à NiA este pai de dois filhos e avô de dois netos. “A minha mulher e eles são uma das razões que me estão a fazer ponderar”, assume.
O autarca é juiz em causa própria, mas não tem dúvidas que “é muito bom viver em Alfragide”. “Vivo cá desde 1975, ou seja, há 50 anos. Vivia em Alvalade, um dos melhores bairros de Lisboa. Já na altura, não havia casas para arrendar em Alvalade e eu estava em início de vida e não havia condições para comprar casa. E, portanto, vim para cá e não estou nada arrependido”, conta este economista de formação e sportinguista de coração.
António Paulo elenca as razões do elogio: “Alfragide tem sossego, tranquilidade, é a freguesia da Amadora com mais zonas verdes em relação à densidade populacional que tem, tem uma centralidade excelente, próxima das vias de acesso a Cascais, Sintra e Lisboa, tem dois polos estruturais da nossa economia, que é a indústria farmacêutica e a tecnológica, que escolheram a freguesia para trabalhar e para as suas sedes”.
O autarca reconhece que a freguesia tem ainda “um problema nos transportes públicos”, que, apesar de tudo, “melhoraram nos últimos anos com esta solução da Carris Metropolitana”. “Não será ainda o suficiente, mas aumentaram o número de carreiras e passámos a ter ligação ao Metro e ao hospital, que eram preocupações que eu fiz sentir à Câmara e que foram resolvidas.
Festa para todos em Alfragide
Para este sábado, 22 de fevereiro, a Junta de Freguesia preparou uma festa do 45.º aniversário, para a qual todos os fregueses estão convidados. No evento, que se realiza no Auditório do Seminário de Alfragide, a partir das 17h30, serão agraciados os funcionários mais antigos da junta e as instituições que se destacaram no último ano.
Será ainda entregue a Chave de Ouro de Alfragide à ex-presidente da Câmara Municipal da Amadora, que é agora deputada europeia no Parlamento Europeia, e que estará em Alfragide este sábado.
Do ponto de vista artístico, haverá um concerto de ópera rock, interpretado pelo Coro Staccato e da Banda AHBV do bairro do Zambujal, com os solistas Sara Belo, João Sebastião e André Henriques, dirigidos pelo maestro José Veloso. Como em todas as outras, a festa não termina sem o bolo de aniversário.
Carregue na galeria e conheça o centro de saúde António Arnaut, na freguesia das Águas Livres, e outras áreas de Alfragide.
