Tem 146 anos, é a coletividade “mais antiga da Amadora e de toda a linha de Sintra”, mas está longe de estar arrumada e à beira da morte. “Costumo dizer que a SFRAA é um diamante em bruto: mesmo com esta idade, continua a ter muito por onde crescer”, conta à New in Amadora Celestino Semedo, 40 anos, 23 dos quais passados na coletividade, primeiro como atleta e desde 2001 como treinador de atletismo, funções que acumula com a presidência desde 2022.
O nome é antigo e difícil de memorizar: Sociedade Filarmónica e de Apoio Social e Recreio Artístico da Amadora. “É SFRAA para os amigos”, brinca o dirigente associativo, que admite que a maior parte das pessoas, mesmo as que moram na Amadora e nos bairros da Falagueira e Venda Nova, “não tem noção de tudo o que a associação movimenta”.
Para começo de conversa, os números dão uma dimensão surpreendente. “O nosso orçamento para este ano é de 2,2 milhões de euros, temos 85 funcionários a trabalhar a tempo inteiro mais 15 colaboradores”, diz Celestino com um sorriso, lembrando que “é muita gente, sim, e muitos ordenados para pagar”.
Uma vez mais, o discurso miserabilista não entra nesta conversa. “A perspetiva é de crescimento. Continuamos a contratar para áreas em que estamos necessitados”, revela, acrescentando que a sua idade e postura ajuda na gestão. “O facto de eu ser jovem permite-me ter uma visão um pouco diferente da gestão de uma instituição destas, menos formalista e mais informal. Fazemos muitas parcerias para crescer. Não vejo a coletividade como uma quintinha só nossa”.
Mais apoio social e o sonho de um novo edifício ao lado da sede
O crescimento da Sociedade vai ser visível já este ano, “com mais duas salas de creche e berçário, que estarão a funcionar na Quinta de S. Miguel até setembro deste ano”, no âmbito de um projeto de ampliação e requalificação financiado com 114 mil euros públicos através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), ao qual a SFRAA se candidatou com sucesso em 2023.

O grande sonho, porém, é a construção de um novo edifício nos terrenos ao lado da histórica sede da Sociedade, que, diz Celestino Semedo, “permitirá aumentar e muito a nossa capacidade de resposta a nível social, associadas à terceira idade e à infância”.
“Queremos alargar a resposta de apoio domiciliário que prestamos à comunidade. Neste momento temos capacidade para 30 utentes e queremos duplicá-la. Por isso, a importância deste mega-projeto”, afirma o dirigente à NiA, lembrando que a obra “custará milhões de euros e que será financiada, na sua grande parte, por fundos comunitários europeus, através de projetos da Segurança Social”.
Dos bailaricos da SFRAA ao apoio aos mais necessitados
Com 2100 associados, a Sociedade Filarmónica e de Apoio Social e Recreio Artístico da Amadora “tem uma marca única e é justo dizer que este concelho seria muito diferente sem o trabalho desta coletividade, que se foi sabendo adaptar às necessidades da população”.
No início tinha uma vertente muito “associada à cultura, ao desporto e à as atividades recreativas, na medida em que era o primeiro espaço da zona que tinha televisão”, recorda o presidente da direção. “As pessoas juntavam-se para ver TV, jogar às cartas, dominó e conviverem umas com as outras, para ir ao teatro e aos bailaricos. Enfim, o normal neste tipo de coletividades”.
A partir dos anos 80, a SFRAA passou a dar mais atenção ao desporto e, mais tarde, à área social, que é hoje “o pilar da casa, quer ao nível do trabalho que exerce, quer no que toca da sua sustentabilidade”.
“Na área social temos um centro de dia com 50 utentes, completamente cheio e uma lista de espera grande. Temos um serviço de apoio domiciliário também completamente cheio, com capacidade para 30 utentes. Somos parceiros da Câmara Municipal da Amadora no projeto AmaSénior, portanto distribuímos todos os dias cerca de 80 refeições aos utentes deste projeto”, enumera.

E continua, sem se deter. “Fazemos a gestão da Casa de Acolhimento Temporário, que é a única no concelho da Amadora, que tem capacidade para 14 crianças, que vão desde os zero meses até aos 12 anos, também ela, neste caso infelizmente, cheia. São crianças que foram retiradas às famílias por situações de abusos e maus-tratos”.
Na área da educação, Celestino Semedo lamenta que a SFRAA “não consegue dar resposta nem a cinco por cento das candidaturas que recebe”, algo que faz parte dos planos de crescimento e das valências do sonho do novo edifício contíguo à sede. Por enquanto, as creches e a gestão dos jardins de infância, com o prolongamento das Atividade de Tempos Livres (ATL) dos miúdos em diferentes idades e níveis de escolaridade, são uma das prioridades.
Ao mesmo tempo, centenas de jovens participam em mais de 20 atividades físicas e desportivas, que a Sociedade mantém ativas, com uma forte aposta na formação de jovens. “Isto é um mundo: temos do atletismo ao triatlo, da ginástica ao ténis de mesa, dos trampolins ao karaté, do ballet ao hip hop, da zumba ao indoor cycling.
“É por isso que eu lhe digo que muita gente desconhece o nosso trabalho. Se calhar, passa aqui diariamente à porta e nunca se interrogou sobre o que se passa dentro deste edifício”, afirma à NiA, concluindo com um desafio. “As pessoas que parem o carro, que entrem e que venham descobrir tudo o que podem fazer aqui e o trabalhamos que fazemos em prol da Amadora”, conclui.
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