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Ele é o rei das farturas. “Quem não me conhece, não conhece a Amadora”

Tiago Rodrigues nasceu no meio dos fritos e construiu uma carreira inesperada. O filho mais velho, com 11 anos, já vai pelo mesmo caminho.
Tiago já faz isto de olhos fechados.

“Eu nasci no meio das farturas”. A frase é dita com um sorriso, mas de forma assertiva. “Não podia ser outra coisa. Os meus tios tinham barracas de farturas, os meus primos tinham barracas de farturas, os meus avós tinham barracas de farturas”, repete. Tiago Rodrigues não podia degenerar.

A família é toda de Castelo Branco. Quando ele pequeno, com cinco ou seis anos, diz, o negócio de rua era o sustento de muita gente. “Andávamos pelas feirinhas e mercados. Os meus pais vendiam cadeiras de palha nas feiras e outras peças, mas tudo o resto eram farturas, pipocas, doces, castanhas, divertimentos infantis e por aí fora”.

“Tudo aquilo fascinava-me”, reconhece à New in Amadora. “Eu andava de calções, descalço, sem T-shirt. Castelo Branco no verão é um calor insuportável”. 

“Eram outros tempos e posso dizer-lhe que os meus filhos, agora, não andam assim na rua”, diz, entre gargalhadas, enquanto comunica por um walkie-talkie com um colega de staff da organização da Feira de Carnaval das Casas do Lago, na Amadora. Além das farturas, Tiago decidiu criar uma empresa de organização de eventos, mas já lá vamos.

Tiago, hoje com 34 anos, não se esquece do dia em que, pela primeira vez, esteve ao lado do óleo a ferver, onde mergulhava a massa para fazer as farturas. Ri-se quando lhe perguntamos. Os olhos brilham.

“Lembro-me como se fosse hoje”. Tinha oito anos, confessa. “Senti-me orgulhoso, senti que pertencia àquele mundo. A primeira roda de farturas não saiu muito perfeitinha, já se sabe, mas as outras foram melhorando com o tempo”.

“Sou o único vendedor de farturas da Amadora”

A receita não muda há 30 anos, assegura. Primeiro, diz que é segredo. Depois, prefere dar uma visão mais romântica: “o segredo está no coração”.

“A massa é feita por nós. É a nossa receita de família, mas o segredo está na forma como a massa é batida. Isso é muito importante para uma fartura. As coisas têm outro sabor quando são feitas porque gostamos e não só para ganhar dinheiro”.

Tiago gaba-se de ser o “rei das farturas” da cidade. “Sou o tipo das farturas mais conhecido da Amadora. Há 14 anos que vendo farturas por aqui. Aliás, posso-lhe dizer que sou o único vencedor de farturas da Amadora. Registado e da Amadora, não há mais ninguém. Os outros colegas que podemos ver por aí, de vez em quando, não são residentes na Amadora. É tudo pessoal que vem de fora”, conta à NiA.

O empresário tinha 19 anos quando saiu de Castelo Branco — “não é mesmo Castelo Branco, é Alcains, terra do Presidente Ramalho Eanes”, como, surpreendentemente, faz questão de sublinhar — e decidiu fazer-se à vida em Lisboa. “Lá tinha muito menos trabalho, quis sair da minha terra e da casa da minha mãe e libertei-me”.

Mora na Falagueira-Venda Nova há dez anos e adora a Amadora. “Gosto muito de viver cá, sou muito bem tratado. Os meus filhos nasceram cá. O Simão tem 11 anos, e já anda no meio das farturas, a pedir ao pai para fazer as suas, e o Santiago tem cinco. “É um reguila, põe-me a cabeça em água”, ri-se.

“Olha, lá vem ele”, avisa. E vem. Chega ao pé do pai e pede dinheiro para gomas. “Vá, leva lá”, responde-lhe o pai. Santiago vai à sua vida e Tiago olha, encolhe os ombros, e diz: “Gosto de os ver felizes. Sou uma pessoa que se preocupa com os outros, que sempre que posso, ajudo”.

Em 2020 e 2021, durante a pandemia de Covid-19, Tiago decidiu distribuir farturas de porta em porta. “Se as pessoas não podiam vir à rua porque estava tudo fechado, ia eu a casa das pessoas. Criei uns packs económicos, porque houve muita gente que ficou sem emprego. Era um pack com seis farturas, seis churritos e três churros, por 10€ e eu, com a minha viatura, ia entregar à porta das pessoas. Fiz muitos amigos e clientes assim, que ainda hoje continuam fiéis”, continua.

Agora, também organiza eventos

A conversa decorre a 100 metros do recinto da feira, por causa do barulho. Uma música brasileira carnavalesca ecoa pelas potentes colunas. Seria impossível conversar ali. Afastamo-nos um pouco, mas Tiago não larga o seu walkie-talkie. De sweat-shirt preta, com o logo OME Eventos, o fartureiro olha orgulhoso para a sua nova conquista.

“Criei esta empresa agora. Faço muitos eventos, por exemplo, para a Junta da Venteira e para outras freguesias. Ainda no mês passado, estive na Feira de S. Valentim, na Mina, e correu muito bem”.

Foi o primeiro evento organizado por si, depois de os amigos o terem convencido a entrar neste novo negócio. “Eu já trabalhava para uma empresa de eventos, e houve quem me dissesse: ‘Se tens capacidade para trabalhar para uma empresa grande sozinho, porque é que não crias a tua própria empresa?’”

A pergunta ficou a remoer, mas Tiago não é tipo de ficar parado. “Se é para fazer, faz-se”, diz. E fez. “Sou um empreendedor, gosto de arriscar, de ir crescendo, de trabalhar”. Por isso, tem três roulottes de farturas: duas são a Mega Churraria Tiago e uma a dizer Farturas Simão & Santiago, em homenagem aos filhos. Além dos fritos, existem os doces de sempre: pipocas, algodão doce, gomas, e toda a sorte de coisas que eles adoram.

Por nós passa uma avó e um neto. Ela come um churro, ele delicia-se com uma fartura. “Olá, Tiago”, diz o miúdo, com a boca cheia de açúcar. O empresário responde-lhe e diz à NiA, com um sorriso: “Está a ver? Toda a gente conhece o Tiago das farturas. Costumo dizer que quem não me conhece, não conhece a Amadora”.

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