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Esta artista de nails “abriu os olhos para o digital”. Hoje ganha 7.500€ por mês

Quando chegou a Portugal, há 18 anos, foi trabalhar como esteticista. Mas rapidamente se sentiu estagnada. Hoje dá formação internacional e tornou-se influencer.

“Há pessoas que se contentam com pouco, que se acomodam, que ficam satisfeitas com o que já conseguiram na sua vida. Eu não sou assim, quero sempre mais, estou sempre a pensar numa forma de crescer, de criar estratégia, de ganhar mais dinheiro.” A frase é de Ayele da Silva, 36 anos, natural do Espírito Santos (Brasil), que para Portugal à procura de uma vida melhor. Agora, decorridos 18 anos, a artista de nails fatura 7.500€ mensais.

“Naquele tempo, o salário em Portugal rondava os 600€, e eu achava que ganhava imenso, porque tinha meses em que conseguia ganhar 1.500€. Uau, estou a ganhar muito dinheiro, pensava. Nem achava possível ganhar-se mais nesta área”, recorda à NiA. Na altura da pandemia, em 2020, que decidiu, como ela própria diz, abrir os olhos.

“Era muito atada, não imaginava que podia ganhar mais dinheiro nesta profissão, tão competitiva, onde há tantas brasileiras a trabalhar. Na pandemia comecei a estudar estratégias de promoção de negócio, a dedicar-me mais, a aprender. Nada do que consegui foi sorte, mas conhecimento, — é resultado do meu investimento. Tenho muito orgulho de ter acordado para uma forma diferente de pensar”, afirma.

Após uma temporada a trabalhar por conta de outrem, conseguiu arrendar um pequeno espaço junto ao Parque Central, na Amadora. Ficou contente, claro, mas sentia que, ainda assim, “podia e devia aprender e fazer mais”.

“Não tinha visão, não conseguia ver para lá da caixa. Certo dia despertei e comecei a encarar as coisas de uma forma mais empreendedora.”

Da ação à formação

Isso já foi há cinco anos. “Comecei a enxergar de forma diferente, abri os meus horizontes de negócio e tornei-me empreendedora”, relata. Primeiro, começou a estudar marketing digital, para dinamizar as suas redes sociais. “Uma das coisas que percebi é que não basta ser bom, tem de parecer bonito”, numa referência à dinâmica do Instagram.

A sua página na rede social conta com 13,5 mil seguidores. “Há uns anos tinha umas 3 mil pessoas a seguirem-me. Foi tudo muito orgânico, muito fluido. Tenho ido dar formação fora da Amadora, para o Algarve, em Lisboa, e na Suíça, onde tenho uma parceria com outra colega”.

Há três anos, abriu um novo salão, na Falagueira-Venda Nova. “Este comprei-o, é meu, já não é arrendado”, diz, com indisfarçável orgulho, acrescentando que “foi a concretização de um sonho”. “Não imaginava que um dia ia ter uma loja própria. As coisas começaram a correr de tal forma, que decidi dar este passo e não estou nada arrependida, porque me tornei uma melhor profissional. Comprei a pronto, mesmo, não tive de fazer financiamento”, explica.

No seu espaço não tem funcionárias, só ela faz as nails das clientes. “Quando estou em formação no exterior, aviso as minhas clientes, mas compensa estar uns dias fechada para ganhar o que ganho na formação”, afirma. “Trabalhar com funcionárias só é possível se a patroa tiver tempo para acompanhar o processo de adaptação.” Como Ayele da Silva não tem, prefere trabalhar a solo.

O investimento feito nas redes sociais deu frutos. “De repente, o meu trabalho viralizou nas redes sociais. Comecei a chegar a pessoas que não me conheciam e que vinham de longe para aprender comigo. Isto tornou-se cada mais frequente, e a procura tomou umas proporções, que, confesso, não estava à espera.”

A empreendedora vai continuar a apostar na formação.

Na sua loja, Ary Art Nails, a agenda está sempre cheia. “Há pessoas que vêm de fora de propósito, para fazer unhas ou para aprender comigo”, sublinha. “Já fui quatro vezes à Suíça dar formação e vou voltar lá no início de novembro. Recentemente estive na ilha da Madeira, no Porto e no Algarve. Em formações de grande sucesso, consigo fechar as turmas todas”, o que lhe permite faturar 7.500€ por mês. “Como não tenho funcionários, nem despesas como a renda, é tudo para mim.”

Aposta na formação 

Ayele adora fazer unhas e perceber o impacto que o seu trabalho tem nas suas clientes, mas confessa que a sua prioridade agora é “continuar a apostar na formação”. “As formações dão muito dinheiro, porque os grupos são grandes e isso compensa os dias em que não estou na loja”,

A brasileira já vive há mais tempo no nosso País do que viveu no Brasil. “Quando sai de lá, vinha em busca de uma vida melhor. Na verdade, o meu sonho sempre foi morar fora, porque tinha uma vida muito descalça, muito sofrida. E procurava melhor”, descreve.

Considera-se uma “uma emigrante que gostou de Portugal desde o primeiro dia”. “Todo o mundo gosta, não é?. Encontrei tudo barato no mercado, para mim já foi uma vitória. Gostei tanto que nunca mais fui embora. No início, quando cheguei, tinha 18 anos, sofri algumas dificuldades de adaptação, mas hoje estou muito feliz”.

A atenção ao detalhe é um dos segredos do sucesso.

Quando lhe perguntamos quais as razões do sucesso do seu trabalho, Ayele não tem dúvidas: “Acredito que é o resultado, o acabamento das unhas. A forma como eu trabalho a qualidade dos produtos. E depois, o meu marketing, modéstia à parte, é ótimo, — os olhos também comem. Aliás, quando as pessoas vêm ter comigo, é sempre através da Internet”, confessa.

A empresária de nails revela que “o pior defeito de um profissional é ficar acomodado, estar contentinho com o ponto a que chegou”. Não pode ser. “Um destes dias recebi uma aluna de Itália, que m disse: ‘vim porque quero ter um resultado igual ao seu’. As pessoas compram resultado”.

A profissional lembra-se que quando cá chegou “não era tão comum haver tantos espaços com serviço de unhas. A profissão de manicura não tinha voz. Hoje tem. No início, nem sabia o que eram unhas de gel. Só descobri quando trabalhei no primeiro salão aqui em Portugal. E não me acomodei, procurei aprender mais”, recorda.

Os tempos mudaram. A proprietária da Ary Art Nails não tem dúvidas que “as portuguesas são hoje mais vaidosas, aprenderam a cuidar de si. A autoimagem, o autocuidado e a autoestima evoluíram muito, graças à influência das redes sociais e das pessoas que não têm medo de arriscar”, remata.

Carregue na galeria e veja alguns dos trabalhos feitos pela artista-formadora.

FICHA TÉCNICA

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