Há vidas difíceis, sofridas, que precisam de um empurrão para desempanar. É o caso da caminhada de Rosângela Salazar Velasquez, 36 anos, natural de Monadas, na Venezuela.
“A vida na infância não foi fácil, fui abandonada pelo meu pai e pela minha mãe, e acabei por ser educada pela minha avó, que me deu tudo o que era essencial. Poucos bens materiais, mas muito carinho, amor, educação. Acabei por ter sorte”, confessa à New in Amadora.
Em 2019 fez-se à vida, à procura de algo melhor, que a fizesse mais feliz. “Conheci um português, namorámos, convidou-me para vir com ele para cá. Nós conhecemo-nos no Peru, ele estava lá em trabalho”, recorda. Gostou “imediatamente de Portugal, sobretudo da segurança”, bem diferente da realidade que conhecia na América Latina.
“A minha filha já tinha 12 aos, que é uma idade importante, e é natural que tenha valorizado essa questão”, explica. Trouxe a “paixão pelas áreas da saúde, da química e da enfermagem”, mas não sabia ao certo o que queria fazer da sua vida. “Só sentia que tinha capacidades que podiam fazer de mim uma profissional com capacidades diferentes”, revela à NiA.
No primeiro trabalho em Portugal, num lar de idosos, testou as suas competências. “Sei que gostava de fazer uns mimos aos idosos e sabia do impacto que o meu trabalho tinha na vida e no bem-estar dos seus pacientes.” O resultado era quase imediato: “muitos velhinhos adormeciam com o poder das minhas mãos. Fui orientada pela dona do lar que achava que eu tinha um dom e devia apostar na fisioterapia”.
Tentou validar o seu diploma, mas não conseguiu. “Aconselharam-me a fazer um curso de auxiliar de fisioterapia, uma vez que a Venezuela não tem convénio com Portugal nesta área.”
Ainda esteve dois anos no lar e gostou muito. “Gosto de cuidar dos mais velhos, que são exigentes e têm necessidades específicas. É um trabalho difícil e emocionalmente desgastante. Mas é muito importante cuidar com carinho e sentir o impacto do meu trabalho nas pessoas”, revela.
“Sinto que tenho um dom”
Com uma agenda altamente concorrida na Fisioterapia & Estética — Saúde e Bem-Estar, Rosângela não tem dúvidas de que tem “um dom nas mãos”. “Comecei a trabalhar por conta própria há um ano, trouxe alguns clientes que já trabalhavam comigo. Tenho sempre a casa cheia. Ainda no sábado, queria sair por volta das 17 horas, para estar com a família, mas não consegui.”
Rosângela tem uma filha adolescente, a que se juntam mais dois filhos da anterior relação. Para já, ampliar o gabinete de massagens não está no seus planos. “Este espaço dá perfeitamente para mim, mas, no futuro, gostava de ter um maior, com auxiliares que me ajudassem. Para ter mais liberdade para gerir a minha agenda”, prossegue.
“O trabalho é duro, das nove horas às 19 horas. Só aos domingos é que consigo descansar. Quando chego a casa, estou tão cansada que já só consigo deitar-me. O meu companheiro não tem qualquer jeito para fazer massagens. Às vezes, dava jeito. A sua competência fica pela cozinha”, explica em tom de brincadeira. “Ele é bom, faz muita coisa, mas não se aventura com as mãos”, acrescenta.
Com uma agenda muito tão preenchida como a sua, Rosângela reconhece que “é possível viver desta arte”. Contudo, “não dá para uma vida de luxo, mas para uma vida digna. Isso para mim chega”, conclui.
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