Quando aos três anos, Raquel Costa, hoje com 41, recebeu do pai “um aquário gigante para montar e um balde de peixes”, nunca pensou que esse seria o início de uma paixão avassaladora por animais. “O meu pai montou comigo o aquário e eu fiquei maravilhada a olhar para aqueles peixinhos”, recorda. A partir daí, foi “uma desgraça. “Levava para casa todos os animais que encontrava na rua, às escondidas dos meus pais. Gatos, cães, todos”.
E acrescenta: “Em casa da minha avó também sempre tive animais. E tinha um tio com imensos gatos. Eu adorava ir para o quintal brincar com os gatos e com as galinhas.”
A pronúncia de Raquel não engana. Natural de São Miguel, Açores, veio para o continente há 18 anos para estudar Engenharia Informática no Técnico. Mas, como parece óbvio pelos primeiros parágrafos deste texto, não era essa a sua primeira escolha.
“Sempre quis ser veterinária, tinha esse sonho. Era a escolha mais óbvia”. Mas um episódio traumático trocou-lhe as voltas. “Tive um cão que, com apenas dois anos, apanhou uma bisnaga com veneno de rato e tive de o mandar abater. Nunca mais consegui lidar com essa dor e deixei de querer ser veterinária. Acho o trabalho dos médicos veterinários fantástico, muito nobre, mas eu não seria capaz de lidar assim com a morte”, justifica.
Apesar de Raquel ainda ter exercido Engenharia Informática, os animais falaram mais alto. Por isso, há cerca de seis anos abriu a Patugas, uma empresa de prestação de serviços na área do bem-estar animal.
“A sede é na Amadora, porque eu moro cá, mas a Patugas não é uma loja física, somos nós que vamos ao encontro dos animais, operando no concelho e em tida a grande Lisboa”, explica à New in Amadora.
Os serviços são diversos: dog walking, com passeios de 30 ou 60 minutos (desde 8€, dependendo do número de passeios por mim e a duração dos mesmos), cat sitting, com acompanhamento de gatos, alimentação, troca de areia e limpeza (a partir de 10€ por sessões de 45 minutos), dog sitting, acompanhamento de cães em casa (desde 10€/hora), treino e socialização de cães, com sessões de 45 a 60 minutos (preços desde 40€ por sessão individual e packs desde 220€).
“Em julho e agosto não vou dormir a casa uma única noite”
A mais requisitada das atividades da Patugas, porém, é o que Raquel chama de “sleep over”. “É um serviço diferenciado que temos, em que eu fico em casa dos clientes, quando estes vão de férias ou de fim de semana prolongado”.
A ideia pegou de estaca. “Tenho cães que treino que são agressivos e reativos com outros cães, e que, além dos tutores, só me toleram a mim. Ou então, cães idosos que já não é aconselhável que saiam de casa. Nesses casos, os donos vão de férias e ficam descansados, porque sabem que o seu patudo fica bem entregue, com uma pessoa de confiança e de quem eles gostam”.
Raquel já tem os planos feitos para julho e agosto. “Não vou dormir a casa uma única noite”, diz com uma gargalhada. “Sim, tenho tudo esgotado”, confirma. A empresária explica que o serviço sleep over contempla um horário entre as 20 horas e as 10 horas da manhã.
“Chego à noite, dou de comer aos meninos, depois vamos passear, brincamos, dormimos — eles adoram dormir comigo e eu não me importo nada — de manhã dou-lhes comida, depois vamos passear e só então é que vou à minha vida”, descreve.
Raquel tem vários clientes fiéis, que renovam a marcação do serviço todos os anos. E beneficia do passa-palavra. “Pode haver algumas pessoas para quem este sistema faça alguma confusão, porque no fundo estão a abrir a casa a uma pessoa estranha. Mas quando se marca viagens pela Trusted House Sitters [uma plataforma de troca de alojamentos, onde os viajantes ficam alojados em casas sem pagar, apenas com o encargo de cuidar dos animais que aí residem] também estamos a abrir a porta a pessoas que não conhecemos”, afirma.
No caso da Patugas, a confiança é outra, reforça Raquel. “Temos toda a transparência nas nossas páginas, estou no mercado há seis anos. Se eu fizer algo incorreto, não vou ser contratada novamente”.
“Sinto como meus todos os cães com que lido”
Com o serviço de sleep over já esgotado para julho e agosto, “e também em alguns dias de setembro já ocupados”, restam os feriados de junho. “Ainda há disponibilidade”, confirma, acrescentando que os pedidos mais normais são para uma semana ou um fim de semana prolongada (preços desde 50€ por noite, com tudo incluído).
“Tenho uma família, que mora na linha do Estoril, que tem dois Golden Retrievers, em que vou ficar um mês inteiro. Os cães adoram-me, temos uma relação muito próxima, muito cúmplice, e uma das coisas que mais gosto de ouvir quando os tutores voltam é: “afinal, quem esteve de férias foram eles”, ri-se.
Atualmente, Raquel tem uma gata em casa. “Já tive cães, mas agora não tenho. Pelo menos em minha casa, mas eu sinto todos os cães que trato como meus”, admite. Por isso, quando eles partem, a dor é “muito grande”.
“Quando os animais morrem, partilho esse luto com os donos e muitas vezes ajudo-os a lidar com essa perda. Trabalho diretamente com associações, e vou recolher os pertences dos cães que já partiram e levar a associações. Esse é um dos trabalhos que faço e que os donos nunca gostam de fazer, porque é um grande sofrimento”.
Carregue na galeria para conhecer alguns dos amigos de Raquel Costa.